quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2014 já foi. Que venha 2015!!

E assim como todos os anos anteriores a ele, 2014 está indo embora. E se foi um ano que trouxe muita coisa boa, também portou consigo muita desgraça ou alguém já esqueceu o Ebola, a crise hídrica, queda e derrubada de aviões, desabamento de viaduto... Isso sem falar no tanto de gente maravilhosa que 2014 levou: Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves, Gabriel García Márquez, mortes que deixam um vazio sem fim...
Mas 2014 foi um ano de muitas conquistas pessoais. Para se ter um exemplo, das cinco metas que estabeleci para mim, apenas não consegui atingir uma delas. Tá aqui, ó, para quem quiser conferir. Eu estou dirigindo de forma mais tranquila, consegui usar menos sacolas plásticas, apesar do maridão não colaborar muito nesse aspecto, estou utilizando menos o carro e mais a bicicleta e, por fim, li muito, muito, muito mais nesse ano que praticamente já passou. Só não consegui fazer coleta seletiva de lixo.
E além disso, o que mais eu fiz? Ah, fiz coisa pra caramba!! Eu vi a Copa! Fui para vários jogos, torci, me diverti. Eu fiz um ano de casada. E me tornei doadora de medula óssea. Eu comprei Dorothy. E depois Brigite. Fiz um curso de produção literária. Aliás, dois. Escrevi como nunca. Assumi tarefas como uma workaholic. Completei 12 anos com Erico. Me engajei, ainda que no mundo virtual, na mais acirrada eleição dos últimos tempos. Fiz uma alteração radical na alimentação. Amadureci minhas posturas contra preconceitos raciais, contra o machismo, sexismo, além de outros discursos de ódio. 
2014 foi um ano intenso? Sim, demais! Parece que passou em fast forward! Tudo acontecendo ao mesmo tempo! Horas de sono roubadas pelo tanto de coisas a serem feitas. Me virei em mil para dar conta da tonelada de tarefas que assumi. A sensação é que ainda estou devendo.
E 2015? Ah, esse já promete. Mas de logo já tenho minhas metas estabelecidas. Considerando o grau de sucesso das anteriores, o padrão ficou elevado.
A primeira é a repetição da meta não alcançada de 2014: fazer coleta seletiva.
A segunda é aprender a dizer não. Delegar tarefas, não achar que posso resolver tudo para todo mundo e não pensar que sou a única que pode dar solução aos problemas do mundo.
A terceira é pedalar mais, seja como esporte ou como transporte.
A quarta é viajar mais. Aproveitar todas as chances e, quando não houver chance, criá-las.
A quinta é uma meta muito pessoal. É até difícil escrever sobre isso. De certa forma é ouvir mais, prestar atenção no que as pessoas falam, e filtrar aquilo que importa. Porque muitas vezes precisamos absorver as críticas, mas outras tantas precisamos fazer ouvido de mercador. Principalmente, é entender que não é a definição dos outros que me define. 
E aí, metas mais fáceis ou difíceis que as de 2014? E as suas, quais são?

sábado, 27 de dezembro de 2014

Uma retrospectiva sobre duas rodas - e sim, eu queria que a frase ficasse dúbia

Como falar de 2014 sem falar dela, a bicicleta, que entrou em minha vida no final de 2013, mas que, em 2014, promoveu uma verdadeira revolução na forma como eu enxergava e atuava no mundo?
O que era um hobby solitário, com pedais curtos, nas ciclovias e ciclofaixas, foi ganhando volume e intensidade. Conheci o pedal 2 em 1 e a pessoa que seria responsável, ao longo do ano, pela minha mudança de perspectiva em relação à bicicleta.
Passei a pedalar com alguns grupos, até que conheci um grupo só para mulheres, o Meninas no Pedal, com o qual me identifiquei logo de cara. Ainda em formação, me integrei às meninas, e fomos fortalecendo o grupo, agregando mais mulheres, papel que, ao longo do tempo, se mostrou fundamental para que houvesse, a cada dia, mais participação feminina no ciclismo como um todo.
Ao mesmo tempo, passei a atuar mais significativamente no Pedale Seguro Salvador e em suas iniciativas para recepção de ciclistas iniciantes.
Minha evolução nesse período foi visível. De uma pessoa que fazia 15km em 1h30min passei a encarar ladeiras, trilhas, pirambeiras sem muito temor. Encarei pedal de 100km, Ladeira do Funil, trilha em Nazaré das Farinhas, na cara e na coragem.
Paralelamente a isso tudo, minha visão sobre a bicicleta foi mudando. O que antes era esporte passou a ser também meio de transporte. Comecei a encarar seriamente a possibilidade de usar menos o carro. Isso foi algo que fiz quando comecei a andar com as laranjinhas do Itaú, mas que, depois de ter comprado minha própria bike, acabei deixando de lado. Passei a pedalar para o trabalho, o que, sem dúvida, foi o ponto de viração de minha relação com a bicicleta. A partir disso, percebi que os empecilhos estão muito mais em nossa mente do que na vida real. Existe risco? Sim, vários. Mas eles não podem ser paralisantes nem impeditivos. Já dizia Dona Canô, ser feliz é para quem tem coragem.
E como tudo em nossa vida está relacionado, esse meu novo olhar sobre a bicicleta e seu papel rendeu frutos. Minha vontade, aliada à de muitas outras pessoas tão ou mais engajadas do que eu, de atuar para fazer com que a bike seja respeitada e encarada como um meio de transporte viável e seguro fez quem que estabelecêssemos uma ótima relação com a PMS e outros órgãos, instituições e meios de comunicação. Isso proporcionou a divulgação de nosso trabalho, o que resultou em seu fortalecimento. Além disso, permitiu que pudéssemos, juntamente com outras pessoas atuantes, colaborar com a Prefeitura em capacitações que já eram um desejo do grupo, mas que somente com uma ação institucional foi possível na dimensão em que está ocorrendo.
E são tantos outros projetos, desejos, sonhos e metas a serem realizados que 2015 já parece pequeno para tanta coisa. O grupo Pedale Seguro Salvador mudou de nome, passou a ser Bike Anjo Salvador, e de foco, e isso abre um  leque de possibilidades infinito.
Já o grupo das Meninas tem uma série de desafios pela frente: consolidar, agregar, manter e estimular. Não é fácil. É na tentativa e erro que tentamos achar o ponto ideal para fazer  com que haja mais e mais meninas de rosa ocupando seu espaço nas ruas, nas trilhas, em todo lugar.
Como foi possível perceber, em determinado momento as histórias se misturam e não mais se consegue saber onde começa um grupo e termina outro, onde começa a bike esporte e termina a bike transporte, onde termina a Menina e começa a Bike "Anja". E é isso mesmo. Eu e as bikes, eu e os grupos, eu e minhas tantas atividades sobre duas rodas. Seja para ir à Praia do Forte ou ao trabalho, seja para vestir roupa de ciclista ou pedalar cycle chic, o que eu tenho a dizer é o seguinte: pedalar pode ser muito mais do que um esporte, muito mais do que lazer, muito mais do que transporte. Basta se deixar encantar e ter um pouquinho, mas só um pouquinho, de vontade de querer sempre mais. Você vai ver que rapidamente, o que no início já era suficiente passa a ser demasiadamente pouco. Em um espaço de tempo curtíssimo, vai querer ganhar o mundo sobre duas rodas. E quer saber o melhor? Você já ganhou.  

PS. São muitas, muitas, muitas as pessoas que significaram muito ao longo desse ano. Seja porque me ajudaram, seja porque ajudei, seja porque foram mais do que parceiros de pedal, mas amigos de verdade. Foram tantas as histórias, tanta superação, tantas conquistas. Alcançamos, juntos, muitos objetivos, e temos um caminho imenso a trilhar para conseguir ainda mais vitórias. Assim, para não correr o risco de deixar alguém de fora, preferi não citar nenhum nome. Mas não se engane, você escreveu essa história junto comigo e sabe disso. O mais importante de tudo? Laços de amizade foram definitivamente criados. E o que a bike une ninguém separa.




























sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A Caixa

Um dia, alguém decidiu me colocar em uma Caixa. Olhou bem para mim, escolheu um modelo e pronto. Não vem ao caso se eu não gostei da cor ou do formato. Importa menos ainda o fato de eu talvez não ter optado por estar em uma Caixa. Ela era minha e eu era dela.
Depois de acomodada na Caixa, era irrelevante o meu sentimento de aperto. Não adiantava tentar levantar os braços, esticar as pernas ou sacudir a cabeça. A Caixa era perfeita para mim. Sem tirar nem por. Também empurrar para ver se as paredes cediam era inútil. Rígidas como concreto, nada as faria sair do lugar.
Sentindo-me incomodada com a falta de espaço e a impossibilidade de movimento, questionei, para o nada, quem havia escolhido aquela Caixa para mim. Por que não fui consultada sobre as medidas ideais? Por que não pude opinar sobre a forma? Por que não tive voz para dizer que, já que estar em uma Caixa era obrigatório, preferia uma maior, que me desse liberdade e proporcionasse novas experiências, caso eu tivesse vontade.
Não sei se fiquei mais surpresa com o som que escutei ou com o teor da resposta. Aquela voz estranha e desconhecida, mas convicta, disse:
- A escolha pela Caixa foi feita por você mesma.
- Por mim?? Como assim? Quem em sã consciência preferiria uma Caixa tão apertada, claustrofóbica e limitadora? Impossível, deve haver algum engano. Ninguém me perguntou nada! Não preenchi nenhum formulário de solicitação! Simplesmente me meteram nesse arremedo de tumba e mandaram-me ficar quieta! Há algo de muito errado aqui
A voz, impassível, continuou seu discurso.
- Sim, a opção foi feita por você. Quando você disse coisas sobre si mesma, quando mostrou apreço ou desapreço, quando se definiu, quando criou paradigmas estanque e engessados sobre sua pessoa, quando limitou a sua visão, quando aceitou não experimentar. Tudo isso ficou registrado em seu inconsciente. Ele é a sua Caixa. É o seu esquife em vida.
Muda, eu não podia acreditar naquilo que ouvia. Não era possível que palavras ditas da boca para fora tivessem tanto poder!
E a voz, inabalável e como que lendo meus pensamentos, completou:
- Não adianta tentar mudar agora. A condenação é perpétua. Você pode desejar ardentemente se movimentar, voltar a sentir seus braços e suas pernas que, a essa altura, já devem estar dormentes. Seu incômodo pode ser genuíno. Mas suas escolhas já foram feitas. Aceite a sua Caixa. Ninguém jamais conseguiu mudar, você não seria a primeira a.... 
Ei, ei, não! Você não pode, pare com isso! Desse jeito as paredes vão romper! Espere, espere, volte!!!

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Telegrama visual

Não mais do que 10 palavras. E de repente meus olhos estavam cheios de água e meu corpo transbordava uma emoção que eu não saberia explicar.
Esperava ansiosamente pelo meu telegrama visual. Qual seriam as palavras usadas? Elas me descreveriam de fato? E a imagem? Eu me enxergaria nela?
Não poderia ser mais perfeito. Não poderia me tocar mais profundamente. Me senti contemplada e devassada, provocada por aquela obra tão completa e tão intensa. Palavras e fotografia formando um todo indissociável. O instante lapidado até chegar no resultado almejado. Isso é arte. Isso é interação que só alguém com muita familiaridade com as linguagens é capaz de conceber e realizar. 
O telegrama fala por si só. Sem subterfúgios, sem rodeios. É Marcella, com seu ritmo frenético e sua vontade de abraçar o mundo, querendo tanto, querendo tudo, querendo mais. Achando que sim, dá para fazer. Tira umas horas de sono aqui, faz dezoito coisas ao mesmo tempo aqui, controla casa milésimo de segundo com mão de ferro e pimba! Quase deu, droga! Se eu não tivesse perdido tempo naquela ligação, se não tivesse ficado presa no engarrafamento, se o sistema não tivesse caído, se Erico não tivesse demorado um minuto a mais para chegar, se...
Obrigada, Maíra Viana, por tudo que você me proporcionou desde que nossos caminhos se cruzaram, em uma dessas piadas do destino. Que nossos passos continuem se encontrando pela estrada, porque ela com certeza fica mais rica com a sua presença.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Sobre meu dedo mindinho e o dia da Consciência negra.

Meu pé na África representa apenas 0,4% de meu DNA. Isso é comprovado cientificamente. Ou seja, é praticamente um dedo mindinho. No entanto, meu cabelo liso e minha pele branca nunca pautaram a minha atuação. Brinco falando sobre a minha baianidade nagô, fazendo uma piada com a minha branquelice quase esverdeada.
Mas se a genética não me deu melanina em quantidade minimamente razoável ou cabelos aptos a fazer lindos penteados black power ostentação, busquei, minha vida toda, manter uma postura de respeito ao movimento negro e suas demandas, embora admita a minha ignorância em muitos aspectos de suas reivindicações. Afinal, as dores de quem sofre na pele o preconceito com certeza doem mais do que naqueles que apenas veem de fora o seu padecimento. Então, ainda que eu não entenda exatamente onde está o racismo em determinada situação, respeito o enquadramento que a vítima dá ao caso. Simples assim.
E se não vivi na pele o racismo, o presenciei de forma muito próxima, acho que sofrendo até mais do que se fosse eu mesma que o vivenciasse. Frases eram ditas a uma criança sem qualquer preocupação se isso ia ferir seus sentimentos ou causar algum tipo de dano, quiçá irreparável. Mas se aparentemente nela não restou nenhum trauma, em mim ficou a marca da intolerância, cada dia maior, em relação a qualquer tipo de preconceito.
Admito a minha dificuldade de discutir sobre o tema, principalmente por conta dos argumentos rasteiros que por vezes tentam explicar as frases ridículas que lemos/ouvimos por aí. Sabe: "não tenho nada contra negros, tenho vários amigos negros" ou "é só uma piada!" ou então "mas porque eu não posso dizer que o cabelo é duro se é duro mesmo?". E a melhor de todas "os próprios negros são racistas com eles mesmos". Apenas parem. São frases tão burras, tão desprovidas de fundamentos que eu apena suspiro e chamo de idiota mentalmente. Tá, já devo ter chamado em voz alta também. Mas quem ouviu mereceu, então estou perdoada.
Não podemos esquecer que essas pérolas são apenas a ponta do iceberg. O buraco é muito, muito mais embaixo. Está escondido nas ruas e becos das favelas e dos subúrbios, no extermínio de jovens negros da periferia, nos massacres e limpeza étnica institucionalizados. Está ali, nas entrelinhas das vagas de emprego, quando se pede pessoas de boa aparência. Está nos padrões de beleza impostos, fazendo com que meninas submetam-se a tratamentos quase medievais para ter cabelos lisos. Está na constatação de que a pobreza é negra. Está na estatística de que apenas 5,3% dos cargos de direção são ocupados por negros nas 500 maiores empresas do Brasil - e 2,1% por negras. Está nas portas das boates, nas taxas de analfabetismo, nos estereótipos das mulheres negras fogosas e rebolativas. 
Peço desculpas desde já pela minha incapacidade de fazer uma análise mais profunda e embasada sobre o tema. Como todo brasileiro, não tive uma formação voltada para o tema. Nem mesmo na faculdade de direito isso é discutido de maneira adequada, embora devesse, afinal racismo e injúria racial são crimes e devemos aprender a lidar com eles.
Concluo apenas que se você é daqueles que acha que não existe racismo no Brasil, que os negros enxergam racismo em tudo, que hoje em dia tudo é politicamente incorreto, então é um sério candidato a receber o meu carimbo mental de idiota. 
E para finalizar, seguem algumas imagens, famosas ou não, sobre a luta contra o preconceito. E um vídeo que é muito, muito interessante, e envolve não só a discriminação contra o negro, mas também contra a mulher. 








quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Sobre o pós-guerra

Em tempos de guerra, a ética e os bons modos são muitas vezes deixados de lado. Ânimos acirrados, ataques gratuitos, agressões desmedidas. Amizades ??? desfeitas, relações familiares abaladas, brigas entre casais.
Eu não sou um bom exemplo. Costumo me exaltar com muita facilidade. O sangue italiano fala mais alto, eu elevo o tom de voz e qualquer conversa mais tensa descamba para a discussão. No entanto, procurei, durante o período eleitoral, adotar um discurso o mais ponderado possível. Demarquei minha posição, deixei claras as minhas convicções e, de início, alertei para aquilo que não admitiria ver em postagens da minha linha do tempo.
Ainda assim, me decepcionei com algumas pessoas, que não esperava ver adotando determinadas posturas. Com outras, o sentimento foi de tristeza ao ler algumas de suas postagens. Por fim, teve a categoria "pena". Fica difícil nutrir algum outro sentimento por criaturas desse tipo. Argumentos rasos e burros, preguiçosos até. Complicado estabelecer um diálogo de nível minimamente razoável. Por outro lado, me surpreendi positivamente com muita gente! Muita mesmo!
No fim das contas, o saldo foi positivo. Agradeço ao fato de não ter amigos preconceituosos e xenofóbicos, a maioria das conversas manteve-se num patamar aceitável e enriquecedor. Aprendi muito durante esse período. Ainda, fiquei feliz de ver pessoas entrando no debate, interessando-se por política. Tudo bem que ainda de um jeito torto, meio capenga, mas já é um começo.
Passado o período eleitoral, o calor das conversas tende a arrefecer. Muitos dos que participaram ativamente do processo eleitoral agora voltam às suas atividades normais, mais importante do que discutir/fazer política. Outros tantos mantêm-se atentos, pesquisando aqui e ali, conferindo a veracidade de notícias e de, quando em quando, metendo a mão na massa. Por últimos, temos aqueles aguerridos, os que não desistem, os que abrem mão de si em prol dos outros, os que não perdem a esperança jamais. São aqueles pelos quais nutro o maior respeito e admiração. Porque são eles os responsáveis por garantir que a nossa voz seja ouvida. Que trazem importantes temas à baila. Que tensionam para incluir na pauta os pontos que consideramos inadiáveis.
Então, se minhas palavras servem de algo, que não percamos de vista o que ganhamos em 2014: disposição para a palavra e para a luta. Que saibamos o nosso valor e o nosso papel. Que não entreguemos de mão beijada o nosso maior poder e não deixemos que calem a nossa voz. Porque do contrário, nem os vinte centavos, nem o "gigante acordou", nem o petralhas x coxinhas terão valido de absolutamente nada. 

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

As ideias estão no chão...

Quando as ideias começam a fervilhar em minha mente, eu fico assustada. Porque se por um lado eu planejo minha vida, gosto de ter os pés no chão, por outro eu tenho uns rompantes que me fazem querer dar conta de mais coisas do que eu acho que sou capaz.
Aí fica o diabinho sentado em meu ombro, me futucando e dizendo: "Vai, faz! Você consegue! Vai ser legal!" E eu querendo, mas não querendo. Não sei se vocês me entendem.
Meu receio maior é não querer correr um risco por medo de sair de minha zona de conforto. Depois vem o temor de estar sendo inconsequente. É esse conflito que não consigo solucionar. E sabe o que é pior? São duas as ideias, e elas são inconciliáveis. Ou seja, não basta decidir fazer algo. Tenho de decidir também o que vou fazer. A estratégia tem de ser bem calculada, porque toda escolha é relevante diante dos resultados que causa. 
É isso. Provavelmente qualquer novidade sobre o tema será apenas para 2015. Ou não.
PS: Antes que perguntem, eu não estou grávida e isso não está nos meus planos de curto e médio prazo. Por enquanto, o máximo que admito é adotar um cachorro. E olhe lá.

domingo, 19 de outubro de 2014

Os primeiros 70 a gente nunca esquece

Ontem foi aniversário do primogênito dos Marconi no Brasil. 70 anos. Uma vida. E se a vida merece ser celebrada diariamente, a cada instante, mais ainda quando essa captura do momento é tão simbólica. Nascer, renascer, escolher viver. Às vezes, sobreviver. A cada ano, um novo início, uma nova oportunidade, um cheque em branco que podemos preencher com quantos dígitos quisermos, tantas quantas sejam as nossas experiências.
Em razão disso, ajudamos a organizar uma festa. Uma linda festa, acho que à altura do aniversariante. Foi muito bonito ver a família reunida celebrando, se divertindo, compartilhando um acontecimento significativo. Lindo também ver os amigos participando, mostrando o quanto Rino é querido.
Espero que ele tenha gostado da festa tanto quanto ficamos felizes em ajudar a proporcionar esse momento. Que venham mais 70, 60, 50, que venham mais festas, jantares, encontros. Que a família possa estar sempre junto vivendo essas histórias e escrevendo novas, porque as próximas gerações dos Marconi também merecem muitos motivos para comemorar.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Trabalho voluntário - não volun-otário

Acho interessante essa coisa de trabalho voluntário.
Eu sou uma pessoa que ajuda os outros. Seja respondendo uma pergunta, fazendo uma pesquisa, indicando um local ou prestador de serviço, explicando um caminho, dando uma força com algum conhecimento que tenho, ensinando o quase nada que sei, falando palavras de apoio...  Brinco que sou um serviço de utilidade pública, mas não faço nada além do que todos deveriam fazer. EU acho. E isso é muito pouco. Muito, muito, mesmo. Mas é o que temos para hoje. Se eu fosse ficar angustiada por todos aqueles pelos quais não posso fazer nada, eu procuraria o primeiro pé de coentro à minha frente para me enforcar. Não é o caso. Vou agindo de acordo com as minhas possibilidades. tentando passar um pouquinho de alento e até felicidade para algumas pessoas.
O problema é que existe gente nesse mundo que acha que pode cobrar. Mais ações, mais dedicação, mais comodidade.
Quer um exemplo? Eu sou bike anjo cadastrada para a região onde moro. Você mora perto e quer aprender a pedalar? Que ótimo, vamos marcar aqui perto e tudo bem. Mora longe? Poxa, chato, mas ainda assim a gente pode se encontrar em um lugar que seja perto. Não, desculpa, eu não vou para Lauro de Freitas te dar aula. É, eu sei, pegar ônibus é ruim mesmo, mas é você que quer aprender a andar de bicicleta, esqueceu? Hmmm eu tenho outras coisas para fazer, não posso ficar o dia inteiro à sua disposição. Ah, eu te disse que a aula era às 08:00h? Tem certeza que você não entendeu errado? Certo, ainda que eu tenha dito errado, o que eu duvido, será que você pode lembrar que esse aqui é um trabalho voluntário e que fica feio você já começar a aula reclamando justamente para a pessoa que vai te ensinar a andar de bicicleta? 
Ou seja, as pessoas querem aprender, de forma gratuita e ainda querem se dar ao luxo de escolher, dia, horário, local e o diabo a quatro. Não que ninguém tenha de aceitar trabalho mal feito. Mas quem se dispõe a fazer o que fazemos está completamente engajado em dar o seu melhor. Ninguém faz corpo mole só porque não está ganhando nada com isso. Aliás, ganhando nada vírgula, nós ganhamos muito: aprendizado, experiência, sorrisos e agradecimentos, que não tem dinheiro no mundo que pague.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

71 dias depois

Quem convive comigo de forma mais próxima sabe que de algum tempo para cá eu decidi que precisava fazer algumas alterações em minha alimentação.
Apesar de ter acrescentado uma atividade física em minha rotina, que muitas vezes tinha ritmo intenso e longa duração, não via o reflexo disso em meu corpo. Eu sentia que minha alimentação estava dissociada da minha prática esportiva. Percebi também que o nutricionista que me acompanhava tinha meio que jogado a toalha, como se o ponto onde eu havia chegado fosse o meu limite. Isso não estava me agradando nem um pouco.
Foi aí que, depois do arraso que foi a Copa do Mundo e isso não tem nada a ver com o 7x1, cheguei à conclusão que precisva fazer algo. Foi então que mudei de nutricionista. Alessandro me acompanhava desde 2011, era como se a nossa relação estivesse desgastada. Eu estava disposta a mais sacrifícios do que o que ele estava disposto a me impor. Chegamos a um impasse.
Tive algumas indicações do nutricionista que escolhi e achei que valia a pena a tentativa e em 24/07 comecei uma nova fase com Thiago Onofre.
Inicialmente, ele me provou por A + B que a minha alimentação estava em completo descompasso com toda a minha atividade física. Minha ingestão de proteínas e carboidratos estava totalmente desbalanceada, concentrada em horários inadequados.
Fomos fazendo algumas tentativas, mudanças no cardápio, adequações. Lidamos com a minha negativa de comer determinadas coisas, minha restrição a outras e as eventuais escorregadas. Chegamos ao cardápio que mais deu estímulo ao meu corpo, digamos assim. O que percebemos é que meu organismo precisa praticamente de uma terapia de choque para poder acordar.
Então, depois de 71 dias, o resultado é esse:


Muito bom? Sem dúvida! Estou super orgulhosa de mim mesma! Mas nada disso aconteceria se não fosse o sacrifício, a dedicação, a disciplina. Óbvio que as jacadas aconteceram #malditafeirinhagastronômica Ninguém é de ferro e estamos nessa vida para viver e isso incluir comer bem. Mas a exceção acontece e a gente segue adiante, sem culpa, sem sofrência, sem drama.
Até porque o caminho não acabou na verdade, não acaba nunca. Ainda tenho uma meta a ser alcançada até novembro. Tenho "tarefas" a serem cumpridas ao longo de cada semana e o compromisso comigo mesma de me manter o mais na linha possível. O que alcancei até aqui me dá ânimo e certeza para alcançar o objetivo estabelecido. 
Então vamos que vamos e que venham os próximos 42 dias!!!

sábado, 20 de setembro de 2014

Palavras: afoguem-me

Este segundo semestre está insanamente maravilhoso.
Depois da primeira oficina literária, senti que escrever é algo que quero, gosto e vou continuar fazendo. Sem neura e sem pressão. Apenas venham, palavras, juro que farei o meu melhor com vocês.
Eu já tinha decidido ler mais em 2014 e estou conseguindo. Tudo bem que larguei alguns livros pela metade ou até menos, mas é porque não rolou a amizade mesmo.
Depois de terminados os primeiros módulos da oficina que fiz com Maíra, eu sabia que não queria nem podia parar. Precisava ser estimulada, desafiada, confrontada. Ansiava que o processo com as palavras fosse além do blog. Buscava alguém que dissesse que o que escrevi era um porcaria, para eu me reconstruir o meu texto e encontrar o melhor de mim. 
Foi aí que decidi começar um novo curso, uma nova proposta. Mais dinâmica, mais rápida. Talvez mais superficial. Mas também inquietante.
Tenho aulas e tarefas. Tenho de pesquisar para suprir aquilo que não é falado. Quanto mais pesquiso, mais encontro outros cursos, outras propostas.
Isso sem falar na minha tese do curso de Italiano. Sim, eles chamam de tese, mas não há um formato definido, tampouco especificação de temas, quantidade mínima de páginas. É apenas um trabalho final que envolve não só a parte escrita, mas a apresentação.
Eu decidi traduzir meus textos. Separei quatro ou cinco que me pareceram mais aptos a essa tarefa. Parece algo fácil de ser feito. No entanto, cheguei à conclusão de que é mais difícil do que escrever um texto do nada.
A tradução está envolvendo um trabalho de pesquisa de palavras, melhores significados, expressões equivalentes. Às vezes, para chegar na melhor palavra para ser usada tenho de consultar mais de três dicionários, busco o uso da palavra em textos, confiro a tradução. Está sendo algo bastante minucioso, mas que está me dando um prazer imenso. Eu imaginava que seria estafante, mas estou é bastante orgulhosa do resultado.
Isso para mim ficou ainda mais claro quando Stefano leu em classe, quase interpretando, parte de um conto. Foi aí que pensei: poxa, o texto é bom mesmo!

sábado, 13 de setembro de 2014

O palhaço e o equilibrista

A vida é engraçada. Vivemos sob a égide de rótulos, conceitos e convenções, que nos moldam muito antes de percebermos que determinadas coisas são como são simplesmente porque um dia foram assim.
Sem nos darmos conta, nos vemos fazendo parte de um circo em que o palhaço, adivinhe, somos nós.
Enquanto fazemos estripulias, um sentimento de insatisfação nos invade. Mas somente quando as lágrimas borram a maquiagem e começa a atrapalhar o espetáculo é que percebemos que algo precisa ser feito. 
Daí surgem alguns caminhos. Ou aceitamos estar no picadeiro, e nos divertimos com isso, ou nos rebelamos e fugimos do comboio, arcando com o ônus de termos sido palhaço a vida inteira e só termos aprendido a fazer isso desde que nascemos.
Um caminho alternativo é deixar de ser palhaço e virar equilibrista. Sim, é possível se adaptar a determinadas convenções, conviver com elas ou simplesmente mandá-las para o inferno, desde que haja coerência em nossas escolhas. Rótulos e conceitos e preconceitos estão programados para se auto destruir em 20 segundos anos? décadas?. É preciso coragem e determinação para apertar o botão. 
O grande lance é que precisamos decidir. Afinal, quem fica ocioso no circo acaba mesmo é virando comida de leão.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Quando um final de semana vale por mil

O final de semana passado foi especial.
Primeiro porque as Meninas no Pedal fizeram seu primeiro pedal longo: Busca Vida - Praia do Forte - Busca Vida. 100km de superação de limites para muitas. O sol deu uma trégua no início, com uma nuvem amiga que nos acompanhou boa parte da ida. O final do percurso é meio puxado, com muitas ladeiras e o calor já atrapalhando. Mas chegamos: vivas, inteiras e realizadas.
Em Praia do Forte, a parada não foi muito longa, afinal era a nossa primeira vez, as novatas não estavam muito dispostas a comer muito e beber
Adiamos a saída em 30min, para que o sol não fritasse nosso juízo em todo percurso de volta.
O retorno complica logo no início. As mesmas ladeiras que pegamos no final da vinda agora temos de encarar na saída. O detalhe é que ainda estamos com o corpo frio e o sol está de rachar o coco.
A média de velocidade caiu um pouco, mas muitas novatas jogaram duríssimo e se mantiveram no pelotão de frente o tempo todo.
Eu estava me sentindo bem até o momento em que meu joelho deu o primeiro sinal de alerta, um pequeno incômodo que nunca tinha acontecido até então. Ignorei e segui em frente. Por volta do km 25, ele começou a doer de verdade. Buscava uma posição para pedalar, mas nada adiantava. À medida que a dor aumentava, meu desempenho piorava. Em toda parada, alongava na esperança de que a dor diminuísse, mas a cada reinício, via que não adiantava. Quando faltavam 10km, a dor estava beirando o insuportável. Eu sabia que deveria entrar no carro de apoio, mas o orgulho e a adrenalina não permitiram. Eu fui extremamente irresponsável, pois poderia ter me machucado de verdade. À essa altura, eu já pedalava somente com a perna esquerda, e ainda assim o joelho direito doía.
Chegar em Busca Vida foi uma realização, uma espécie de batismo mesmo. Tudo bem que agora estou de molho, mas valeu a pena #nãofaçamissoemcasa
Agradeço demais ao pessoal do Grupo Embarke na Catraca, que nos acompanhou e nos apoiou nessa empreitada. E parabenizo as Meninas no Pedal, que foram guerreiras e raçudas! 
Já domingo foi dia de ser voluntária! Mais uma Escola Bike Anjo bombando! Depois de aparecermos no Correio24h e na página da Prefeitura, sabíamos que o negócio por lá ia ferver, mas não esperávamos que fosse tanto assim.
Éramos 09 bike anjos, nesse número incluo a incansável Kari Góes, que recepcionou as pessoas de forma brilhante.
Os alunos não paravam de chegar, alguns conseguiram pedalar, outros não, mas a garra e a vontade foram a marca registrada do dia. Ver a felicidade estampada no rosto de cada um, perceber o ar de incredulidade por ter conseguido pedalar, receber um abraço de gratidão pela oportunidade, não há dinheiro que pague nada disso. 
Ainda rolou gravação de uma matéria com a TV Bahia e uma reportagem para o ATarde #maisbikeanjosporfavor
Os mais bacana de tudo foi ver, quando já havíamos encerrado a EBA, uma senhora, que não conseguiu vaga no dia, ser ensinada pela própria filha, apenas com o que ela ouviu de instrução. Lindo, emocionante!
Teve aluna que havia acabado de aprender ajudando uma outra, que ainda não havia conseguido pedalar.
Ou seja, além da EBA, instalou-se uma rede de solidariedade e aprendizado no Campo Grande que espero que se perpetue por toda Salvador!  
E então, foi ou não foi um final de semana maravilhoso?

domingo, 24 de agosto de 2014

Pedalar: muito mais do que fazer o pedal girar

Quando começamos a pedalar, adentramos em um mundo totalmente novo. Conhecemos pessoas com as quais dificilmente travaríamos qualquer tipo de relação se não houvesse a bicicleta como interesse comum. Encontramos pessoas que circulam no mesmo ambiente que nós, que são amigos ou parentes de amigos ou parentes nossos, mas jamais trombamos com elas pelos corredores. Ou até já nos esbarramos, mas éramos apenas mais um na multidão.
O mais interessante é que somos homens e mulheres de todas as idades, formações, rendas, religiões, convicções políticas, orientações sexuais, objetivos de vida, mas que se unem em torno de uma motivação: a bike.
Se quisermos, em um piscar de olhos estaremos totalmente envolvidos por toda a dinâmica que envolve o ciclismo: segurança, acessibilidade, respeito, dedicação, motivação, grupo, aprendizado, mecânica, superação, companheirismo.
A cada dia, ganhamos experiência, aprendemos coisas novas, dominamos uma técnica, percebemos que precisamos nos dedicar mais em outra área, descobrimos que tipo de pedal nos agrada mais.
Mas o mais importante mesmo é que vamos fazendo amigos. São pessoas que têm muito mais em comum com você do que apenas o amor pela magrela. E mais, são pessoas com as quais você percebe que pode contar, muito além de assuntos de bicicleta. As relações se fortalecem, forma-se uma rede de apoio para o que der e vier.
Subimos na bike e ganhamos toda uma vida sobre duas rodas: cheia de aventuras, amizades e experiências que não têm preço. 

domingo, 17 de agosto de 2014

Amor adolescente

Nosso amor já não dura o tempo da vida de uma criança de não sei quantos anos. Virou um adolescente de 12 anos, afinal hoje em dia essa fase começa bem mais cedo que na nossa época.
Mas venhamos e convenhamos, depois de 12 anos, tudo o que não nos resta são revoltas sem causa, rótulos, questionamentos vazios, rebeldias superficiais e busca desenfreada por aceitação.
Ainda temos cá nossos momentos de besteirol, risadas gratuitas e infinitas por besteiras ditas na cama quando o cérebro já não funciona muito bem, pequenas surpresas cotidianas, vontades de jogar tudo para cima e dar aquela escapada no final de semana, apenas para não fazer nada em outro lugar. 
Temos nossos sonhos, nossos anseios, nossas utopias. Projetos que são cultivados de forma ingênua. Dúvidas de como lidar com certezas pretéritas que hoje mudaram de status. 
E temos o desejo e todos os seus desdobramentos. As novas faces que ele assume a cada dia. Os caminhos desconhecidos que ele desbrava quando achávamos que já sabíamos tudo um do outro. O ar de frescor que ele traz consigo quando a mesmice teima em querer se instalar.
Claro também que temos as nossas brigas. Idiotas, sérias, mas cada vez menos frequentes e menos duradouras. Somos adolescentes muito maduros para a nossa idade. Ou não.
Temos um ao outro. E não que isso baste no sentido que nada mais nos falta. Mas estamos juntos para buscar aquilo que ainda não possuímos, em todos os sentidos. Para lidar com os vazios, as incertezas e os medos. Para curtir os momentos de alegria que preenchem e dão sentido a tudo. E para fazer até da rotina aborrecente algo bom de se viver.








PS. Eu não tenho fotos digitalizadas desses 12 anos. Lembrem-se que câmera digital era algo inatingível para mim em 2002, pois eu era apenas uma estudante lenhada que fazia duas faculdades, andava de buzu e às vezes tinha de me virar nos 30 até para tirar xerox. A vida não era fácil para ninguém.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Da indignação e seus desdobramentos

Quem me conhece sabe que tenho um perfil de tolerância zero para determinadas coisas: racismo, homofobia, machismo, injustiças de um modo geral. Não gosto de humor negro, não tenho paciência com burrice e ignorância. Minha tolerância com gente retrógrada é bastante limitada. E sim, sou bastante firme até radical em meus posicionamentos
É que às vezes esse temperamento às vezes me faz reagir de forma impetuosa e impensada. Reconheço que o fato de não aceitar determinadas posturas não, eu não aceito mesmo, no máximo ignoro ou tolero, não me venham com essa de que cada um pensa como quer blá blá blá não me dá o direito de ofender pessoas mentira, às vezes dá. E em algumas situações pessoas se sentem ofendidas com meu jeito um tanto quanto curto e grosso, digamos assim mais grosso do que curto.
Então, como prova de que eu sou uma pessoa que reconhece os erros e que busca acertar e melhorar, analiso as críticas que me fazem e tento repensar minhas atitudes. E a cada dia aprendo que a postura mais inteligente de todas é ignorar as discussões que não me dizem respeito. Não falou para mim, não falou de mim e não falou comigo? Dá para ignorar? Fingir que a mensagem não chegou? Ouvido e olhos de mercador. Não posso assumir as dores do mundo.

domingo, 20 de julho de 2014

Dia do amigo sem nhém nhém nhém

Quem me conhece sabe que não sou muito de mimimi. Não sou fofa, não sou meiga e não sou delicada. Nunca fui. Não curto frases de auto-ajuda atribuídas a escritores que devem se revirar nos túmulos ao lerem as pieguices atribuídas a eles e não sou lá muito adepta de imagens bonitinhas com chavões que falam de amor, amizade, perseverança blá blá 
Mas se de um lado não gosto muito dessas fofurices, por outro meu reconhecimento a meus amigos é inabalável. Por eles, estou sempre disposta e de prontidão, para fazer o que for necessário mas não me chamem para roubar, matar ou sequestrar ninguém. Só esclarecendo. Ainda que a gente não se veja com a frequência desejada. Ainda que as conversas via facebook por vezes se tornem mais corriqueiras do que gostaríamos. Ou ainda que a gente fique um bom tempo sem ao menos trocar uma palavra ou um kkkkkkk. Piada interna.
Porque a amizade permanece. Apesar dos defeitos, das diferenças, das discussões. Isso porque vamos percebendo, com o passar dos anos, que os verdadeiros amigos são poucos. E se são tão raros, merecem ser cuidados, preservados. Só fazemos isso com respeito, paciência e compreensão. Sim, muitas vezes os amigos são muito diferentes de nós. Às vezes nos perguntamos como é que ainda o suportamos. E aí vem uma conversa, um abraço, uma risada e a gente não questiona mais nada, porque a resposta está na cara.
Então, não apenas desejo um feliz dia do amigo, mas agradeço a todos aqueles, novos e antigos, que me dão a honra de poder usar esse título. E aproveito para dizer que vocês deixam minha vida muito mais feliz e divertida kkkkkkkk. Piada interna. De novo.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Do futebol e outros demônios

Aqui vou falar muito pouco de futebol. Reconheço humildemente a minha limitação e minha ignorância. Deixo para pessoas mais gabaritadas as análises táticas, técnicas e estratégicas.
Se não vou falar de bola, vou falar de pessoas. Principalmente daquelas que, de tão rasteiras, nem mereciam a nossa atenção. Mas todo mundo merece seus 15min de fama, então vamos em frente.
Eu curti essa Copa tanto quanto foi possível. Comprei ingressos, fui ao estádio, assisti aos jogos. Em casa, esforcei-me para dar conta do trabalho e poder parar na hora de jogar. E se não dava para jogar o trabalho para cima completamente, era um olho no processo e outro na partida. Porque Copa é Copa e essa foi boa do início até agora. E por agora entenda-se que o dia de ontem está incluído.
No entanto, para muitos, a Copa só prestou até as 17:10h do dia 08/07/2014. A partir daí, virou um festival de vendidos que ganham milhões e não são capazes de jogar. Ou um evento que começou errado, com estádios superfaturados e obras não finalizadas, de modo que tinha de terminar errado também. Ou ainda um espetáculo de alienados que não enxergam o uso político que o PT e Dilma estão fazendo do mundial.
Sinceramente? Preguiça. Preguiça da burrice das pessoas. Para mim, só pode ser problema de conexão entre neurônios. O que tem a ver as obras da Copa e dentre obras da Copa não está incluído o viaduto em BH com o futebol jogado ou não pela seleção brasileira? Ou a máfia dos ingressos com os 07 gols sofridos? Desculpa, mas não vou perder tempo discutindo com amebas.
Outro ponto interessante analisar é a vergonha. Né, porque é um vexame, uma humilhação, porque não vai se falar em outra coisa, porque foi um baque, porque estamos destruídos, porque parece que levei uma surra.... Menos, por favor. Foi horrível, foi foi intenso, foi - Pablo do Arrocha. Foi ridículo até. Em algum momento do jogo, o gol nem doeu mais. Mas é isso, gente, é futebol. Para um ganhar, o outro tem de perder. Dessa vez, e mais uma vez, fomos nós. Que façamos da derrota uma lição. E lembremos que, se fôssemos nós a meter 7 na Alemanha, provavelmente hoje estaríamos fazendo piadas grotescas com salsichões. Então não vamos crucificar jogadores, xingá-los de putas que não têm nada a ver com isso, chamá-los de vendidos, publicar seus salários como se o fato de ganharem muito bem os proibisse de perder, de errar. Eles merecem todas as críticas, mas não a execração pública. Não vamos, na derrota, apagar tudo que de bacana fizeram desde o ano passado. Ou já esquecemos que fomos campeões da Copa das Confederações?
E para finalizar, quero dizer que sou brasileira independentemente de torcer e sofrer pela Seleção Brasileira. Exercício de cidadania não se mistura com torcida de futebol. Fiquei feliz de ver as pessoas unidas em busca de um ideal. Espero que possamos continuar unidos em busca de outros, um pouco mais importantes do que o hexacampeonato. O que me deixou triste, no entanto, foi perceber que os brasileiros, para enaltecer aquilo que têm de bom, precisam diminuir o outro, o rival, o inimigo, seja este a seleção que não jogou ou o PT que nem competência para comprar a Copa teve. E como se não acreditassem que de fato somos bons, temos coisas boas, somos únicos. Xingam, vaiam, do hino de outro país à presidente da República. Colocam bandeira no carro em um dia para queimá-la em praça pública no outro. Difícil aceitar tamanha contradição, afinal, até ontem o tom do cântico dos estádios era a chatíssima "sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor". Cadê o orgulho? E o amor? 
Domingo a Copa termina, não sem antes a disputa de 3º lugar, que também promete ser um ótimo jogo. E semana que vem já recomeça o Brasileirão. Temos também eleições. Ou seja, preparemos nossas cabeças, coração e estômagos, porque ainda tem muito 2014 pela frente.
E para as crianças que continuam sem ver o Brasil ser campeão, acreditem em mim, vocês superam. 

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Estão faltando palavras?

E mais uma vez este blog fica às traças virtuais. Quase um mês sem postagens. Assim enfraquece a amizade. Poderia dizer que estou sem tempo. De fato estou. Mas acho que a verdade verdadeira é que me sinto usando tanto as palavras que às vezes parece que gastei todas elas. Fico, sei lá, 8h por dia escrevendo. Ainda tenho meu curso, que faço com o maior prazer, em que pese muitas vezes ter de terminar as atividades forma corrida. Aí, quando penso em simplesmente aparecer por aqui para desabafar, compartilhar, externar opiniões, simplesmente as palavras se escondem, talvez por pirraça, por não estarem recebendo a devida atenção. Eu as entendo, juro.
Mas eu ainda estou aqui, e prometo, sem cruzar os dedos, que tentarei ser mais assídua. Que economizarei algumas de melhores palavras para usar por aqui. Que o tempo livre será fraternalmente dividido entre o curso, o blog e a bicicleta - e o marido, claro. E que jamais vou esquecer do quanto este blog já foi importante para mim, então não posso simplesmente desprezar algo que me ajudou em tantos momentos.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Déjà vu

Os músculos retesam, fazendo surgir dores aqui e ali. O estômago relembra queimações que há tempos não apareciam. Pequenos erros, aborrecimentos, contratempos, que vão dando o tom do que será essa semana. Ou não.
Treino discursos imaginários, cuja chance de acontecerem de verdade é muito grande.
Prevejo uma noite agitada.
Antecipo situações.
Sofro de véspera, como isso pudesse me preparar para o pior.
E, no fim das contas, só posso saber o que quero. E o que não quero. O resto é uma incógnita. 

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Pollyanna e a moeda

Ver as coisas pelo lado bom não é apenas uma forma Pollyanna de ser. É a maneira de seguir em frente sem se prender ao que de ruim aconteceu. É de fato enxergar que coisas produtivas podem surgir de uma situação aparentemente adversa. É tomar o baque, aprender e voltar a caminhar.
Não sou muito adepta do outro lado da moeda, que é o famoso "poderia ser pior". É mais ou menos assim: tropeçou e caiu? Poderia ser pior, poderia ter quebrado o braço. Ou: foi roubada? Poderia ser pior, poderia ter sido sequestrada, estuprada e esquartejada. E ainda: caiu em um buraco? Poderia ser pior, poderia ter ido parar no núcleo da Terra e ter morrido queimada de lava. Acho que já deu para entender, né?
O que me irrita no "poderia ser pior" é que sempre pode ser pior, sempre tem alguém em uma situação pior do que a nossa corta para a foto do garotinho sem braços e sem pernas para fazer você se sentir culpada por estar reclamando que não faz as unhas em um salão há mais de mês. Não há nada que esteja tão ruim que não possa piorar. Fato.
O grande lance de ver as coisas pelo lado bom é ser algo que só depende de nós se esse mundo ainda tem jeito, apesar do que o homem tem feito.... Porque não basta ver, não temos uma postura de espectadores nesse caso. Normalmente, nós temos de fazer essa coisa boa acontecer. Ela não vai cair do céu, embora eu tenha de admitir que às vezes coisas ruins acontecem para evitar acontecimentos bem piores, mas só percebemos isso depois de ter bradado e amaldiçoado a tudo e todos ao redor então, de certa forma e da forma da crença de cada um, caiu do céu
Se nós vivemos imersos, boa parte do tempo, em situações que não são as ideais, as mais confortáveis e agradáveis, pressionados por prazos, produtividade e metas, tentando fazer malabarismos para o dinheiro render, a conta fechar e o mercado não faltar, então não são poucas as vezes em que somos obrigados a decidir de que forma vamos ver as coisas.
Não se engane, essa é uma escolha que vai permear a sua vida e definir como ela será dali por diante. E aí, no cara e coroa da vida, você torce para que face da moeda caia virada para cima?

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Temos todo o tempo do mundo? Não, as coisas não são bem assim...

Saber eu até sei. Mas quem disse que eu me conscientizo de que não sou a mulher-maravilha? Que não dá para manter as coisas no ritmo que estão? Que dormir 5h/6h por noite não é sustentável? E que a empolgação somente vai servir para mascarar o cansaço por um tempo?
Têm sido semanas puxadas. Muito trabalho e outras atividades. Morro de inveja de quem tem no trabalho uma forma de prazer, mas não é o meu caso. Gosto da função que ocupo e do trabalho que faço, me sinto recompensada quando preparo uma minuta de sentença que exigiu mais de mim, mas daí a sentir prazer com isso é outra história. Trabalho é trabalho e pronto. Sem dramas.
Também não posso dizer que gosto de malhar. Malho porque sim. Fico feliz com o resultado, gosto de ver minha evolução, mas o momento em si, blergh. Se não fosse Danilo, bem provável que eu já tivesse jogado a toalha.
As outras atividades me preenchem e me divertem. Adoro escrever e tenho me dedicado a isso. A bicicleta me conquistou e agora, definitivamente, faz parte de minha vida. O italiano também é uma festa, tanto pela aula quanto pelos colegas.
No entanto, tudo demanda investimento do mais caro: tempo. Porque felizmente ou infelizmente, quando eu me dedico a algo, faço de corpo e alma. Gosto de participar, de entender. Gosto de fazer a diferença. Não sei ser de outro jeito.
E aí, quando me dou conta, já são 23:00h, 00:00h. E no outro dia acordo às 06:00h, ou às 05:00h, então bate o desespero porque o despertador avisou que está programado para tocar daqui a 05horas, 07 minutos e 32 segundos. E quando se quer dormir logo, aí é que o sono não vem mesmo.
E aí chegamos ao resultado da equação. Se eu não consigo ler o que os bocejos e as olheiras significam, o corpo manda recados mais enfáticos. De repente, uma azia meio do nada. Depois, uma garganta que começa a doer inesperadamente. E aí, analfabeta, vai entender o recado ou vou precisar desenhar?
Então, a partir de agora, tenho dois objetivos. O primeiro é conseguir dormir cedo. Se tem bike num dia à noite, no outro dia eu preciso ir para a cama mais cedo. Isso demanda uma logística de organização maior, deixar algumas coisas já arrumadas, mas vai ter de ser assim.
O segundo objetivo é dizer um pouco mais de não. Não, eu não preciso ajudar todo mundo. Não, eu não preciso procurar isso no google, porque qualquer um pode fazer. Não, eu não preciso tomar todas as responsabilidades para mim.
Ou seja, se eu quiser continuar fazendo todas as coisas que preciso e gosto, tenho de me cuidar melhor Afinal, pior é depois cair doente e não conseguir fazer nada.
E termino com a frase mais bela do dia, que não garanto a autoria  - Marcel Proust - nem a literalidade: uma hora não é uma hora, é um vaso cheio de perfumes, de sons, de projetos e de climas. 

domingo, 11 de maio de 2014

A herança - apenas uma pequena homenagem

Apoiou os braços na cômoda e ficou na pontinha dos pés, como fazia todos os dias desde que se entendia por gente. Muito difícil controlar a ansiedade. Mal conseguia enxergar o próprio rosto no espelho, mesmo se esticando o máximo que podia. Quando afinal triscou naquele que era seu maior desejo, não se conteve e sorriu triunfante.
Lembrou da primeira vez que o viu, no colo da mãe. O encantamento foi imediato. Aquela profusão de cores deixou-a hipnotizada. Seria possível existirem tantas?

Olhou para o lado assustada. Será que a mãe sabia daquelas incursões diárias? Encolheu-se. Sentiu-se envergonhada, as bochechas ficaram vermelhas. Saiu correndo, mas, vendo-se sozinha em casa, retornou ao quarto e para o seu mister.

Puxou o objeto para si, apertou bem forte contra o peito para não deixá-lo cair e sentou-se encolhida em um canto entre o guarda-roupa e a sapateira. Abriu a tampa, mirou demoradamente cada detalhe. Fotografou cada cor, cada matiz. Passou os dedos por toda sua extensão. Sentiu as diferentes texturas misturando-se de forma quase circense em sua pele. Aspirou o perfume. Explorou cada compartimento, arregalando os olhos com a quantidade de coisas que cabia ali dentro. Alisou, mexeu, experimentou.

Transformou-se ela mesma em uma cobaia, tão concentrada em sua descoberta como se o mundo ao qual pertencesse se resumisse àquele minúsculo vão de 50cmx60cm. Apesar do breu no esconderijo, tinha convicção do que fazia. Ansiou a sua vida inteira de cinco anos por aquele instante. Torcia para que não tivesse fim. Ainda havia muita coisa para ser testada ali.

Ouviu o barulho da maçaneta. Viu-se enfim desmascarada, a mãe entrando e despejando um sermão daqueles.

Ergueu a cabeça, e a mãe apareceu de pé à sua frente. Sua fisionomia misturava indistintamente surpresa e zanga. Antes que começasse o falatório - e o carão – levantou-se, colocou as mãos nas cadeiras, fez a sua melhor cara de convencimento e, em tom de inquisição, perguntou:

- Mãe, quando você morrer, seu estojo de maquiagem vai ficar para mim de herança?

Segundos depois, estava refestelada na própria cama, curtindo plenamente a sua mais nova aquisição, com a alma tão colorida que nem o arco-íris pintado em sua face era capaz de demonstrar.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Quem poderá nos defender

Estou aqui perdendo preciosos minutos de sono para fazer uma pergunta: quem ensina às meninas e às mulheres como lidar com o assédio diário? Já tentei de quase tudo. Ignorar, responder, gritar. Nada, absolutamente nada, parece dar resultado.
Simplesmente continuo me amaldiçoando por dar cartaz ao calor infernal que faz em Salvador e sair de short. Ou por andar de bicicleta sem a minha cycling burka. Ou por usar roupa de academia fora da academia. Ou por ter quadris largos e coxas grossas. Ou simplesmente por ser mulher.
Hoje mesmo fui seguida no mercado, que tal? Um cretino fingia entrar nas mesmas seções que eu para poder ficar olhando para as minhas não tão belas pernas. E olhe que ele estava com o seu filhinho, que provavelmente se tornará um futuro assediador, pois o seu papai estava lhe ensinando muito bem, com os piores exemplos.
Tive vontade de gritar, fazer um escândalo, chamar um segurança. Mas daí eu pensei: vou pagar de louca, neurótica e complexada. E não é sempre que a a gente está nesse espírito.
Outro dia foi um "guardador" aqui da rua. Com ele eu gritei, fiz barraco na porta do restaurante aqui ao lado. Ele argumentou que estava me elogiando e que eu não era ninguém para desrespeitar ele e mandar tomar no cu. Tá, reconheço que errei, porque mandar tomar no cu não deve ser usado como xingamento assim como viado, puta, etc, já discutimos isso outro dia. Infelizmente, o preconceito às vezes fala mais alto, e eu me envergonho por isso
Daí eu volto à questão: o que nós podemos fazer? Minha vontade mesmo é carregar um spray de pimenta, um taser... Porque não vai demorar para eu me colocar numa situação de perigo real. Esse guardador, mesmo, está aqui todos os dias. E aí?? Vou à delegacia denunciá-lo por importunação ofensiva ao pudor art. 61 da Lei de Contravenções Penais? Pode até ser que resolva num caso como esse, que o contraventor é alguém conhecido ou identificável. E quando não é? Quando é o engraçadinho que passa o carro bem devagar para soltar a piadinha? Ou o que tenta te imprensar no muro? Ou o que simplesmente olha de forma tão ofensiva que faz você querer se esconder atrás de qualquer coisa simplesmente para fugir daquela agressão?
Hoje vou colocar a cabeça no travesseiro e, apesar do cansaço, sei que vou demorar a dormir. A impotência me tira o sono, me dá dor de estômago e me faz ter raiva do mundo. Talvez eu seja xiita nesse posicionamento? Talvez. Seria mais fácil se eu fizesse parte da ínfima parcela de mulheres que acha engraçado ou gosta desses "gracejos"? Sem dúvida. Infelizmente, escolhi o caminho mais difícil, que é o da revolta. O pior é nem saber que armas podemos usar.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Curtinhas - sobre bicicletas e palavras

* E a palavra do final de semana é... desafio!
Amanhã farei a minha primeira trilha com a bike e, tenho de assumir, estou com um friozinho na barriga. Medo de não dar conta, medo de cair, medo de errar, medo de me machucar. Mas a ideia não era justamente experimentar, curtir coisas novas, conhecer gente e me divertir? Então vamos em frente, que a hora é essa.
Se der se eu estiver viva, essas coisas, amanhã posto fotos lá de Sapiranga. Aproveito o final de semana e dou uma esticada em Praia do Forte, afinal, minhas férias estão acabando e não coloquei os pés fora do perímetro de Salvador.
* Meu avanço com Dorothy tem sido notável pelo menos para mim. Não tenho pedido arrego em nenhuma ladeira - dentre elas, a da Barra, a do Hospital Português e a Manoel Barreto. Não tenho sentido muitas dores após os pedais. Agora meu objetivo é conseguir fazer pelo menos 2 noturnos e um no final de semana, ou pelo menos algum treino específico.
* Aproveito a oportunidade para dizer que o blog está meio largadinho, mas é por uma boa causa. Estou com um projeto paralelo mas não posso falar nada sobre isso ainda #subcelebridadefeelings que está me tomando um pouco de tempo e criatividade. Em breve posto notícias e serei mais assídua.

sexta-feira, 28 de março de 2014

O copo e o corpo

R$6,00 em uma mão, um copo amarelo na outra. Precisava comprar pão e mortadela. O café quente queimava seus dedos. Não dava tempo de esperar esfriar ou perderia a hora para fazer unhas e cabelo, um dos poucos luxos ao qual se permitia.
Virou a esquina e deu de cara com eles, seus algozes. Mas ainda não sabia disso. Ficou parada com o café queimando sua pele. Teve medo de soltá-lo e assustar os policiais. Afinal, só quem mora no morro sabe o que é ser visto como bandido. Seus olhos se encontraram. Rápido, muito rápido. O copo, a culpa foi dele. Ouviu aquele som, tão familiar e ao mesmo tempo tão assustador. Tiros. Qualquer coisa pode acontecer quando tiros ecoam pelos muros da favela. As balas, tantas vezes perdidas, por ora acham janelas. E pessoas. Sequer desconfiava que, dessa vez, seria ela o destino do chumbo.
Logo ela, trabalhadora e mãe de quatro filhos. Aliás, oito. Mas de barriga só quatro mesmo. Os outros eram sobrinhos. Amava todo mundo igual. Assim como amava seu marido, com quem estava há quase vinte anos. Hoje em dia isso é coisa rara. Não é que a vida deles fosse fácil, mas nem por isso tinha de ser triste. Trabalhavam muito para dar conforto aos filhos e de vez em quando fazer um agrado. Por isso a filha usou fantasia no Carnaval. Vestiu-se de BOPE. Por isso os gêmeos teriam sua festinha de aniversário, nem que tivesse de pedir dinheiro emprestado. Filho seu não ficava sem bolo e parabéns. E a mais velha também haveria de comemorar o noivado e o casamento. Depois disso, cuidaria de reformar a casa, um sonho seu. Isso e as crianças não serem nunca confundidas com bandidos.
Sentiu uma queimação no peito. Não entendeu bem o que era, mas viu que os policiais apontavam as armas em sua direção. Olhou para trás, achando que poderia estar no meio de um confronto. Não havia ninguém. Agora a fisgada foi na cabeça. Dor. Sangue. De repente, não conseguia mais ficar em pé. Seu corpo desabou no chão duro. Ouviu gritos. Fechou os olhos. Pegavam sua perna e sua calça. Mais tiros, mais gritos. Ouviu risadas. Foi jogada no fundo de um carro, mas seu braço ficou para fora. Será que não perceberam que ela estava de mau jeito? Ouviu a palavra hospital. Sirenes, mas aquilo não era uma ambulância. Por que uma viatura? Prisão ou socorro? Ouviu um estalo. Quando menos percebeu, estava pendurada do lado de fora. Um, dois, cem, duzentos, trezentos e cinquenta metros. O asfalto quente rasgava sua pele. O carro parou, e ela foi, mais uma vez, arremessada no porta-malas. Por que não foi colocada no banco traseiro, mais confortável? Por que fuzis e coletes eram mais importantes do que ela?

Chegou morta ao hospital. Assassinada. Atingida por tiros – não perdidos ou trocados, mas deliberadamente direcionados. Morreu não socorrida, jogada e arrastada. Não comeria o pão com mortadela. A festa de aniversário dos gêmeos aconteceria sem a sua presença. Sua filha mais velha entraria apenas com o pai na igreja. Não comemoraria bodas de porcelana. Seria para sempre a bandida que estava dando café para os traficantes. É, agora, apenas um número, uma estatística, um dado nos relatórios policiais. Mais uma tragédia cotidiana. Mais um Amarildo. Mas ela precisa dizer. Não é apenas mais uma vítima do Estado. Seu nome é Claudia Silva Ferreira.

segunda-feira, 24 de março de 2014

A carta e os moinhos de vento

Blog parado por aqui é sinal de muita movimentação na "vida real". Véspera de férias, processo acumulado, milhares de eventos... É, está difícil conciliar tanta coisa, para variar. Mas são coisas boas, que estou fazendo por prazer e por convicção. As aulas de italiano recomeçaram, estou me esforçando para pedalar com regularidade e ainda tem a academia.
Como se eu não tivesse coisa suficiente para fazer, ainda invento mais. A mais nova é uma petição pública em combate à violência contra ciclistas.
Depois de ver inúmeras postagens sobre assaltos a ciclistas em diversos pontos da cidade, não consegui me conter e tive de fazer algo mais do que simplesmente permanecer reclamando nas redes sociais. 
Numa postura talvez utópica, quem sabe ingênua, quiçá quixotesca, resolvi escrever uma carta aberta buscando soluções para o problema. Tendo em vista que o problema da violência é complexo e possui várias origens, a solução também não é simples e demanda atuação de várias áreas. Por isso não me limitei a simplesmente solicitar mais policiamento para a região. Seria temporário, seria limitado. 
Hoje temos, com certeza, um mercado de receptação, pois existem bicicletas realmente caras rodando por aí. Basta ver alguns anúncios estranhíssimos de bikes na OLX. E não sei se existe uma investigação de fato sobre para onde ou para quem vão essas bicicletas roubadas. Também é necessário que se tenha uma política de estímulo ao registro das ocorrências, de forma que se tenha uma dimensão real da quantidade de assaltos e dos locais de maior ocorrência.
Infelizmente, a mesma energia que eu tive para formular a carta aberta e criar uma petição pública não é compartilhada pela maioria das pessoas. Tudo bem que não sou uma pessoa com milhares de contatos ou super bem relacionada, mas tenho lá meia dúzia de amigos, participo de alguns grupos... Ocorre que essa minha rede de relacionamentos se refletiu em apenas 92 assinaturas até agora. Quase nada, né? Pois é. Isso sem falar nos amigos e conhecidos daqueles que assinaram e divulgaram.
A minha dúvida é apenas se as pessoas não assinam por não acreditarem, por discordarem ou por mero descaso. Nunca saberei, acho.
Para quem se interessar, basta clicar aqui para ver a petição pública. Se achar por bem assinar, deixo desde já meu agradecimento.
E se quiser ouvir a matéria e minha entrevista feita pela CBN Salvador sobre a nossa mobilização, pode clicar aqui.
Bom, quanto a mim, continuarei trabalhando pela petição enquanto achar que ela é viável. Porque posso não ter um networking de respeito, mas pelo menos mantenho meu senso do ridículo. 

sábado, 8 de março de 2014

O dia é nosso, mas o presente é de...

Dispenso as flores, os presentes e os cartões. Passo batido por todos os emails promocionais que estou recebendo hoje. Troco todos os "Feliz Dia da Mulher" e os "Parabéns pelo seu dia" por um mundo onde eu não precise me esconder sob roupas para tentar normalmente em vão não ser tratada como um pedaço de carne. Onde não haja uma estatística de que 70% das mulheres sofreram algum tipo de violência ao longo de sua vida. Ou de que 40% a 70% dos homicídios de mulheres foram cometidos por seus parceiros. Ou de que uma em cada cinco mulheres sofreu ou sofrerá uma tentativa de estupro no decorrer de sua vida. Ou ainda de que 80% das vítimas de tráfico de pessoas sejam mulheres. Para não precisar ir muito longe, quero um país em que o feminicídio não atinja a absurda marca de 5,8 mortes por 100.000 mulheres. Em que a Lei Maria da Penha atinja a sua finalidade e consiga reduzir, de fato, o número de mortes, coisa que hoje não acontece.
E deixo aqui uma música e um poema, uma homenagem a nós, que somos mulheres, que nos tornamos mulheres ou que escolhemos ser mulheres. A nós, que vivemos equilibrando papeis, sendo uma, mas sendo várias, para dar conta de tudo que nos cabe, ou que tomamos para gente, porque achamos que somente nós conseguimos dar conta. A maioria das vezes é verdade.

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado para mulher
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem
sem precisar mentir
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Adélia Prado