sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A Caixa

Um dia, alguém decidiu me colocar em uma Caixa. Olhou bem para mim, escolheu um modelo e pronto. Não vem ao caso se eu não gostei da cor ou do formato. Importa menos ainda o fato de eu talvez não ter optado por estar em uma Caixa. Ela era minha e eu era dela.
Depois de acomodada na Caixa, era irrelevante o meu sentimento de aperto. Não adiantava tentar levantar os braços, esticar as pernas ou sacudir a cabeça. A Caixa era perfeita para mim. Sem tirar nem por. Também empurrar para ver se as paredes cediam era inútil. Rígidas como concreto, nada as faria sair do lugar.
Sentindo-me incomodada com a falta de espaço e a impossibilidade de movimento, questionei, para o nada, quem havia escolhido aquela Caixa para mim. Por que não fui consultada sobre as medidas ideais? Por que não pude opinar sobre a forma? Por que não tive voz para dizer que, já que estar em uma Caixa era obrigatório, preferia uma maior, que me desse liberdade e proporcionasse novas experiências, caso eu tivesse vontade.
Não sei se fiquei mais surpresa com o som que escutei ou com o teor da resposta. Aquela voz estranha e desconhecida, mas convicta, disse:
- A escolha pela Caixa foi feita por você mesma.
- Por mim?? Como assim? Quem em sã consciência preferiria uma Caixa tão apertada, claustrofóbica e limitadora? Impossível, deve haver algum engano. Ninguém me perguntou nada! Não preenchi nenhum formulário de solicitação! Simplesmente me meteram nesse arremedo de tumba e mandaram-me ficar quieta! Há algo de muito errado aqui
A voz, impassível, continuou seu discurso.
- Sim, a opção foi feita por você. Quando você disse coisas sobre si mesma, quando mostrou apreço ou desapreço, quando se definiu, quando criou paradigmas estanque e engessados sobre sua pessoa, quando limitou a sua visão, quando aceitou não experimentar. Tudo isso ficou registrado em seu inconsciente. Ele é a sua Caixa. É o seu esquife em vida.
Muda, eu não podia acreditar naquilo que ouvia. Não era possível que palavras ditas da boca para fora tivessem tanto poder!
E a voz, inabalável e como que lendo meus pensamentos, completou:
- Não adianta tentar mudar agora. A condenação é perpétua. Você pode desejar ardentemente se movimentar, voltar a sentir seus braços e suas pernas que, a essa altura, já devem estar dormentes. Seu incômodo pode ser genuíno. Mas suas escolhas já foram feitas. Aceite a sua Caixa. Ninguém jamais conseguiu mudar, você não seria a primeira a.... 
Ei, ei, não! Você não pode, pare com isso! Desse jeito as paredes vão romper! Espere, espere, volte!!!

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