domingo, 27 de setembro de 2015

Acumulando coisas

Tralhas. Lixo. Inutilidades. Coisas nunca usadas. Usadas até a exaustão. Esquecidas no fundo de gavetas. Escondida em prateleiras. Poeira. Teia de aranha. Olha, eu estava procurando essa roupa. Ou não. Muriçocas alvoroçadas por terem sido expulsas de seus esconderijos.
Frascos estão guardados em meio a pratos, garrafas e outros itens descombinados. Por mais que caixas e caixas sejam retiradas, parece impossível tirar daqui tudo que nos pertence.
O importante é esvaziar. Sair. Transformar aquilo que já foi um lar em um reles imóvel. Aluga-se?
Saem caixas e sacos, repletos, pesados. Fica parte de uma história.
Impossível não me emocionar. Relembrar tudo que vivi desde o dia que enchi o apartamento de toda a sorte de utilidades domésticas e de expectativas.
O dia em que comemos pizza, ainda sem mesa, sem móveis, sentados no chão.
A noite do open house. Tantas visitas vieram. Tantas noites de domingo preguiçosas. Quantos amanheceres vi de minha janela enquanto me arrumava para ir pedalar. Aniversários, copa do mundo, dia dos namorados coletivo...
Fui feliz aqui. Mas serei feliz em qualquer lugar. Clichê ou não, nosso lar é onde o coração está.  E talvez o meu não estivesse mais aqui.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Sobre caminhos, bagagens e todas as outras coisas

Eu sinto que, de quando em quando, preciso de algo mais do que apenas desacelerar o passo. Por vezes, como agora, sou obrigada a estancar a marcha, recuar, arredar para não cair na cratera que se abre praticamente debaixo de meus pés. Erosão de minhas certezas, as verdades se desmantelam em pó. 
E aí me desfaço de sonhos, deixo algumas vontades pelo chão, abro mão de algum conforto, tudo para poder seguir. Embalo minhas esperanças, encaixoto suspiros, empacoto minhas lágrimas. As alegrias, ah, essas protejo uma por uma em plástico bolha, para não correr o risco de quebrarem no meio do caminho. 
Em um cômodo vazio, agora tão grande, resta apenas a necessidade inabalável de sair do lugar. O eco de meu silêncio relembra que essas paredes não são minhas. Meus quadros deixam marcas encardidas na pintura branca, que não representam nenhuma história. Permanecer é um lamento. Não soma, não agrega. Apenas tira, aos poucos, lasquinhas de minha felicidade, como quem cutuca uma casca de ferida até sangrar.
Mas se o destino é incerto, que meu caminhar seja leve. Passos decididos, mas animados, certos de que precisam continuar o seu percurso, não importa qual.
E o olhar para trás, que seja breve, para que não me pese o coração, já que as bagagens são um fardo suficientemente grande a ser carregado por mãos tão pequenas quanto as minhas.  

domingo, 13 de setembro de 2015

Aquilo que me falta

Eu às vezes sinto falta do chão. Daqueles bem firmes, que não sacoleje a cada intempérie da vida. Que não balance quando eu pestaneje. Que seja suficientemente resistente para que eu possa fincar meus alicerces.
Sinto falta de luz. De estar tudo às claras, visível, na superfície, bastando que eu estique a ponta de meus dedos para que possa tocar em todos os fatos, sentimentos e sensações.
Sinto falta da brisa, de um vento fresco que traga ares de novidades e que leve consigo ar pesado que me oprime o peito. Um sopro que bagunce os cabelos, o vestido, a mesmice.
Sinto falta de ombros mais fortes que os meus, nos quais eu possa me apoiar e que me ajudem a suportar o peso do mundo. Daqueles em que eu possa subir e olhar o mundo mais adiante.
Sinto falta de colo que me aconchegue e me acolha, onde eu possa simplesmente acomodar minha cabeça e ganhe, de brinde, um cafuné e a sensação de que ali é meu lugar.
Sinto falta de mãos vigorosas nas minhas, que me deem a certeza de que posso fechar os olhos e me deixar ir, confiando que elas sabem exatamente para onde estão me conduzindo. Mãos que cumprimentam, que guiam, que apoiam, que acarinham.
Sinto falta de pés que caminhem comigo, dividindo os estradas, deixando para trás pegadas de uma história e escolhendo, juntos, novas trajetórias. Pés que optem por traçar destinos em comum, percorrer as mesmas veredas.
Sinto falta de olhos que me vejam além do óbvio, além da casca, que compartilhem os horizontes e que sejam cúmplices nos brilhos que causarem uns aos outros.
Eu sinto, apenas, sinto, que mais me falta do que me basta. Que são muitos os buracos. Que as ausências preenchem de forma opressora. Que as fugas apenas tornam mais presente e perene aquilo que aflige. E que chega um momento em que as verdades precisam vir à tona para libertar todo o resto, ainda que o preço a pagar seja alto. Ainda que doa. Ainda que tudo se rasgue, ainda que tudo vire pó. Mesmo aquilo que, em verdade, nunca existiu.

domingo, 26 de julho de 2015

O que nos deixam os avós

Lembro do pão com manteiga e açúcar, dos seus cabelos brancos brancos e das tardes infindáveis lendo os capítulos da novela e assistindo ao programa de Silvio Santos na TV.
Lembro de mim, encarapitada no portão, vendo-o atravessar a rua, e as infinitas maçãs e peras guardadas na gaveta do quarto no hospital,  presentes a cada visita.
Lembro do colo, das canções e do estado de hipnose em que eu ficava quando, devidamente aninhadas na confortável poltrona marrom na salinha, apertava com a ponta de meus dedos a sua veia saltada no rosto, inebriada com o cheiro de cigarro e com os desenhos feitos com a fumaça.
Lembro de um dia chuvoso, a varanda molhada, palavras distantes de uma música surgem na minha lembrança de criança de 04, 05 anos.
Às vezes acho que a minha memória se confunde com as informações colhidas aqui e ali. Preencho os vazios com um pouco de minha imaginação? Faço força para lembrar de fatos impossíveis de serem retomados. Me prendo aos fios de minha memória e, com eles, costuro a teia de minha história, tecendo uma trama ora firme, ora esgarçada, mas que serve para me cobrir nos dias e noites sem alento.
Avós são engraçados. Confundem-se no seu papel e, às vezes, são moles como geleia, mas de vez em quando querem mostrar autoridade (apesar de nem sempre serem muito eficazes nisso).
A mesma avó que me dava pão com manteiga e açúcar me obrigava a tomar sopa. A outra me regalava com as assassinas balas soft, mas me ensinou a comer alface. Um avô nos dava salada de fruta com vinho, mas, quando brigava, não ficava pedra sobre pedra. Do último, o que primeiro perdi, restam apenas algumas imagens e sons embaçados. Pode ser que ele tenha me ajudado a enrolar o spaguetti, limpado a meu queixo sujo de molho ou até cantado para mim. 
O que importa mesmo é que avós são uma bênção. Quem ainda os tem, trate de aproveitar e se munir, o máximo possível, das melhores recordações. São elas que vão ajudar a segurar a onda quando a saudade bater. Porque sim, essa dor virá. E a saudade será insuportável  por um tempo. Até o dia em que reviver as histórias faça surgir, das lágrimas, um sorriso.
E para quem já é avô ou avó, sugiro que faça a sua parte para ser inesquecível. Porque não serão os presentes caros, brinquedos de última geração, passeios no shopping que deixarão uma marca no coração de seus netos,  mas a presença, os ensinamentos, as lições e as experiências que viveram juntos, mesmo aquelas mais simples e aparentemente insignificantes.
A maior herança de um avô ou avô,  mesmo já não estando mais nesse plano, é a capacidade de fazer seu neto ou neta extrair de si os melhores sentimentos e atitudes.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Tá faltando lugar no inferno para tanta boa intenção

Eu não costumo gostar de gente bem intencionada. 
Tenho preguiça quando vejo, a cada dia, uma nova boa ação. Porque boa ação das boas mesmo precisa ser divulgada, de forma ampla e irrestrita, para todo mundo ver.
E são tantas frentes de atuação que me dá até canseira. 
Tá, a pessoa é iluminada, tem a solução para todos os problemas do mundo, resolve de fome a unha encravada, e o que eu tenho a ver com isso?
Detesto quem posa de bom moço - e boa moça. Quem sorri demais, é solícito demais, disponível demais. Ou não é bem assim?
Parece que a virtude no comportamento, pelo visto, só se mantém íntegra sob os holofotes. Quando as luzes se apagam, todos os esforços são engendrados para que elas se acendam novamente, se possíveis ainda mais fortes.
Fazer o bem é apenas um detalhe nessa complexa engenharia. O destinatário das caridades somente usufrui de um efeito colateral. Porque o intuito primeiro é aparecer. Os demais objetivos são uma incógnita. 
Daí vale tudo. Não vou nem listar a quantidade e variedade de iniciativas, porque as pessoas podem se sentir ofendidas de não serem capazes de fazer tanto, com tanta qualidade e em tão pouco tempo. É muita criatividade, muito conhecimento e muita humildade. Saber tudo sobre tudo não é para qualquer um. E demonstrar isso com tanto propriedade então, é tarefa para poucos. Quando a pessoa dedica boa parte de seu tempo para fazer essas ideias acontecerem, aí não tem para ninguém. Vamos nos recolher à nossa insignificância e deixar brilhar quem de fato merece.
Eu só desejo uma coisa. Que essas pessoas bem intencionadas vão para... onde quiserem, desde que seja bem longe de mim.

domingo, 26 de abril de 2015

Trilha astral

Hoje recebi o meu Mapa Natal e, quando comecei a ler, não conseguia parar de rir, tamanha a minha incredulidade. Sim, era e ali, sem tirar nem por. Mentira, umas duas coisinhas não foram assim, milimetricamente perfeitas, mas todo o restante era toda eu.
Temperamento, iniciativa, competência, foco, carência emocional, senso de integridade, justiça e dever, agressividade. Essas palavras lembram alguém? Pois é. E tem muito mais. Detalhes que parecem contar alguma história que se passou comigo. Coisas sobre as quais falei dias atrás.
E a tendência de problemas no joelho?? Joelho, gente, quer um mais problemático que o meu? Mentira, tem piores, mas o meu é bem bichado, hein?
Daí fiquei me questionando o quanto o Mapa Natal nos determina. Pergunta estilo Gabriela. Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou morrer assim? Eu sou assim porque os astros disseram ou sou assim porque eu acho que os astros disseram?
Quando meu mapa astral diz que posso ser agressiva, briguenta e irritante, ou que eu guardo rancores por tempo suficiente para me fazer mal, o quanto disso é modificável? Quanto há de ingerência minha nessas características astrologicamente inatas?
O quanto há de imutável quando leio que sou controladora e que me sobrecarrego e, na ânsia de chegar aonde quero, exijo mais de mim do que dos outros, inclusive buscando o reconhecimento por isso? Eu posso um dia passar a ser alguém paciente, que divide tarefas e responsabilidades, e que não se importa se as pessoas são gratas ou não pelo que fiz? 
A perfeição poderá não ser um valor supremo em minha vida?
Uma das frases que mais me chamou a atenção em todo o mapa foi essa: "Você poderá se sentir mal compreendida e que não consegue
harmonizar quem você se esforça para ser e quem as pessoas vêem.
Não é por falta de esforço, tente não se cobrar tanto".
Só para você ter uma ideia, eu falei sobre isso aqui, aqui e aqui. Coincidência? Será mesmo?
E para terminar, algo que venho trabalhando há anos na terapia. Vou anotar para não esquecer.
“Na vida existem coisas além do meu controle”.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Labirinto

Eu me desdobro, me dobro, retorço minhas convicções, amasso os meus conceitos para poder seguir caminhando.
Viro, desviro e me multiplico. Fraciono-se em mil, todos pedaços, partes inteiras de uma realidade pulverizada.
Conto minutos e horas. Dias calculados por produtividade. Amontoados de coisas deixadas de lado. Deixo-me de lado. À minha frente, metem-se as metas, intrometem-se as estatísticas.
Botões, cliques, fluxos e rotinas, elementos de uma vida vista através de uma tela fria.
Brinco com a minha condição. E me condicionamos a aceitar que a realidade não vai muito mais além. Restrinjo meus quereres a pouco mais do que o mínimo. Uma fresta de sol. Minutos sem pensar em nada. Um dia sem que a cobrança me pese nos ombros. E nas feições.
Tento, em vão, convencer a mim mesma de que é uma fase, que tem data para acabar, que é a última vez. Como um labirinto, busco saídas que se revelam ilusórias, e volto ao mesmíssimo ponto do início. 
Mas se a saída não se avizinha, que eu faça do embaraço de caminhos a minha morada. Nesse enredo de fazer e desfazer, teço a teia de uma história diferente, sonhada e desejada. Cada passo descompassado, descompensado e arrastado compõe a estampa dessa busca. Rabisco aqui e ali, risco caminhos já feitos, mas ignoro os sinais e sigo por eles. De novo, de novo e de novo. Os percursos já traçados se travestem de inédito, engabelando meus sentidos, tornando confusas minhas certezas.
Brincando de me perder, escapar já não importa. Desprezo a passagem escancarada. Encontro-me em meio à desorientação. E já não sei andejar em linha reta. Olho para o céu e sinto que não preciso de mais nada.

segunda-feira, 30 de março de 2015

Cânions do São Francisco muito além do óbvio

Viajar para conhecer os Cânions do São Francisco é praticamente uma obrigação. É daquele tipo de viagem que não se pode deixar de fazer. Ainda mais para quem é nordestino. 
Mas existem formas e formas de se cumprir esse roteiro. Algumas informações estão super difundidas na rede. Basta dar uma olhada no Google. Outras nem tanto. É sobre elas que vou falar.
A primeira é: ficar em Canindé do São Francisco não tem a menor graça e não é necessário. É uma cidade super comum, sem nenhum atrativo por si só. A única coisa relevante é que é de um restaurante famosinho de lá que saem os catamarãs para os passeios.
Qual a opção? Ficar em Piranhas. A cidade é super preservada em sua parte tombada, com casinhas coloridas e construções históricas. Existem muitas opções de pousada, muitas além das que estão no Booking.com. Ou seja, vale a pena dar uma boa pesquisada. Sugiro que se pergunte como é o acesso para a pousada, se tem estacionamento e se tem wi-fi. Muitas estão localizadas em morros e somente se chega após encarar uma escadaria ou uma ladeira. Para quem tem criança pequena ou dificuldade de locomoção pode ser um problema. Não custa nada perguntar também se o quarto tem vista para o rio.

Comer em Piranhas é bastante complicado para quem tem alguma restrição, principalmente na baixa temporada e durante a semana. Muitos restaurantes fechados, alguns abrem apenas para almoço e outros apenas para jantar. Não há qualquer lógica. Vários estabelecimentos somente aceitam dinheiro. Ou, se aceitam cartão, a internet pode ter caído e o cartão não passar. Vá prevenido. Há agências da Caixa, Banco do Brasil e Bradesco.
Quanto à comida em si, muita carne do sol, aipim (macaxeira), pirão de leite... Muito peixe frito. Tudo muito gorduroso. Os restaurantes mais famosos são o Flor de Cactus e a Cachaçaria Altemar Dutra. Desconfio que são os mais famosos porque estão sempre abertos. A comida é bem mais ou menos. A Cachaçaria também é pizzaria e sushi bar. O Flor de Cactus tem uma vista maravilhosa, fica ao lado do Mirante Secular. O atendimento, em todos os lugares, deixa a desejar.
A cidade não conta com um lugar legal onde se possa tomar um café da tarde, por exemplo, comer uma tapioca, bolo, cuscuz... 
Os restaurantes que são ponto de partida e de chegada dos catamarãs (Angicos, Eco Parque e Karranca's) também são bem meia boca. Vale apenas pela praticidade. O preço segue essa linha.
Quanto aos passeios, três dias é suficiente para cumprir o roteiro, digamos, obrigatório: os Cânions do Xingó, a grota do Angico, os museus e a Hidrelétrica. Ainda dá para curtir uma prainha na beira do rio, em Piranhas mesmo ou já em Canindé.
O passeio para o Xingó, quando feito por catamarã, tem horário fixo de saída, por conta das excursões que vêm de Aracaju. É super fácil comprar o voucher. 
Prepare-se, no entanto, para 2h de navegação (ida e volta) e apenas 1h nos cânions propriamente dito. Além disso, se for durante o final de semana, feriado ou alta estação, o barco vai lotado. A trilha sonora também é sofrível. Arrocha, sofrência e forrós de procedência duvidosa. 
Uma opção muito interessante é fretar um barquinho. A diferença é bem pouca, com a vantagem de você controlar o horário. Pode sair mais cedo, pegar a piscina do cânion bem mais vazia, fazer suas fotos com tranquilidade e ficar até a hora que cansar. Alguns exigem lotação mínima no barquinho, outros não.

O passeio para a Grota do Angico, que é o local onde Lampião foi morto, também é feito de catamarã, que sai de Piranhas. O barco para no Angicos ou no Eco Parque. A trilha do Angicos tem cerca de 800m. A do Eco Parque é mais longa, 1.600m. Deve-se pagar uma taxa de R$5,00. Os restaurantes tem uma boa estrutura para os visitantes aproveitarem o banho no rio ou para relaxar nas redes, futtons e espreguiçadeiras. Para a trilha, não custa lembrar: tênis é o ideal, chapéu ou boné é fundamental e água e protetor solar são imprescindíveis.  
Também este passeio pode ser feito com a contratação do barquinho, com a vantagem de poder ir direto para o povoado de Entremontes, famoso por seus bordados. Quando se vai de catamarã, tem de dar sorte para que haja um barqueiro disponível no restaurante.

Quanto aos museus, são dois: o Museu do Sertão e o Museu de Arqueologia do Xingó. São pequenos, mas vale a visita. E preciso estar atento aos dias e horários de funcionamento.
O passeio para a Hidrelétrica também é bacana. O guia explica todo o processo de construção e muita coisa do funcionamento atual. Custa R$40,00 por veículo. É recomendado utilizar sapato fechado.
Agora, se você quer algo mais, se quer conhecer algo que está meio fora do circuito e que não é indicado por nenhum guia, eu conto sobre o pulo do gato agora.

O point se chama Eco Fazenda Mundo Novo. Fica a 32km de Canindé e foi cenário da minissérie Amores Roubados. O lugar é cheio de atrações. São sítios arqueológicos, pinturas rupestres, trilha do cangaço, por onde passou Lampião, além de belas formações rochosas e um espetáculo da caatinga.
O local é também um hotel que conta com alguns chalés, cujo número de hóspedes é variável. A diária inclui todas as refeições. Almoçamos por lá e foi a melhor comida da viagem.
O dono, seu Augusto, é uma atração à parte. Ele que conduz os visitantes nas trilhas, explicando sobre as plantas, as rochas e a história do lugar.
Há também um deck para banho no rio e um barco que, adivinhem, pode levar para os passeios no Cânion e na Grota do Angico. 






Espero que meu relato possa ajudar quem vai viajar para esse paraíso incrustado na Caatinga. Deixo aqui alguns contatos que peguei por lá.

Eco Fazenda Mundo Novo
(79) 9804-0673 9606-0609
augusto@ecofazendamundonovo.com.br

Roberto (locação de barco)
(82) 8803-8463

José Carlos Turismo (locação de barco)
(82) 8105-2762
(82) 8728-5158

Nito (locação de barco)
(82) 8881-0125

Guia turístico: Valdivino. Pode-se procurar por ele no Centro de Visitantes da Hidrelétrica ou no Museu do Sertão.

sábado, 21 de março de 2015

O que me move

Às vezes, em alguns de meus muitos momentos de tempestade mental, me questiono como escolho aquelas coisas às quais vou me dedicar. Como decido investir meu tempo e minha energia em algo? Quais as molas que me impulsionam? O que me atiça, o que me motiva?
Para ser bem sincera, não sei. Porque muitas vezes aquilo que me empolga é algo completamente banal para a maioria. Ou o que me revolta, e que me faz tomar uma atitude, fazer algo, tentar alguma coisa, não enseja o mesmo tipo de reação de outras pessoas.
E aí eu concluo que sou uma pessoa deveras estranha. Vim programada com padrões que não correspondem ao standard da sociedade. E isso me faz criar expectativas e sofrer decepções além da conta. Quando me empolgo, mergulho, me jogo, entrego-me. Faço isso de forma natural, espontânea. Mas dificilmente encontro correspondência. O resultado? Quase sempre um cataploft fenomenal.
E aí fica a dúvida existencial: continuo a me deixar tomar por esses arroubos idealistas, ainda que isso signifique tombos pelo caminho? Ou escolho melhor as minhas batalhas para que elas encontrem reflexo nas pessoas que me rodeiam? 
E a maior dúvida de todas: tudo isso faz diferença?

domingo, 1 de março de 2015

Zap Zap: o retrato de nossa sociedade (ou mais um texto de uma chata)

Eu uso Internet há muito tempo. Vivi a fase do VP Telebahia, bate-papo do UOL, Mirc, ICQ, Msn, Orkut... Agora é Facebook, Instagram, Twitter e WhatsApp. Ou Zap Zap para os íntimos.
Cada rede social ou ferramenta de comunicação dessas tinha as suas peculiaridades que as fizeram ser febre em sua época. Se bem que na época do VP a sua característica maior era ser a única. Ou uma das únicas. Enfim. Era raro pra caramba.
Nós dávamos valor ao fato de usar a Internet. Era caro acessá-la. Envolvia altos custos de telefonia e provedor. A manha era usar depois da meia-noite e aos domingos Viva ao pulso único isso ainda existe?.
Com o tempo, foi-se a Internet discada, veio a banda larga e a sua consequente popularização, uma vez que o preço baixou consideravelmente.
Algum tempo depois, começou uma evolução nos aparelhos telefônicos, que passaram a agregar diversas funções. A tendência de diminuição de tamanho reverteu-se e eles aumentaram sensivelmente para dar conta de tantas funcionalidades incorporadas.
Com telas maiores e dispositivos mais rápidos, o uso da Internet nos smartphones sofreu um incremento significativo. Isso sem falar na queda do preço para navegar, uma vez que as operadoras passaram a fazer campanhas agressivas de acesso ilimitado por valores muito baixos.
Essa encheção de linguiça toda foi para falar que hoje gato e cachorro usa Internet. Eu acho isso ótimo. Não imagino a minha vida sem, apesar de conseguir periodicamente me desconectar. E acho que não acessar Internet hoje em dia promove um aprofundamento do abismo entre classes. Informação é poder. Quer dizer, boa informação é poder. Infelizmente nem todo mundo dá valor e sabe usar corretamente esse recurso.
Eu, como falei há alguns dias, já superei quase completamente a fase dos selfies desregrados e do #instafood chatíssimo. Filtro o que leio e o que publico. Checo, confirmo antes de disseminar um fato. Procuro me preservar e evitar exposição desnecessária e sem propósito. Enfim, isso vocês já sabem. 
A questão é que muita gente que começou a usar a Internet atualmente não passou pela sua evolução. Isso significa postar agora coisas que foram enviadas em correntes de email dez anos atrás. Sim, existia uma coisa chamada corrente de email. Esse, no entanto, é o menor de nossos problemas, como vocês poderão constatar mais adiante.
Vou falar especificamente do Whatsapp. Ele é um fenômeno da comunicação rápida e instantânea, uma vez que é acessado pelos smartphones. Permite interação o tempo todo, inclusive com troca de imagens, vídeos, localização...
A criação de grupos atende a finalidades específicas e, às vezes, momentâneas. Temos grupo da família, dos amigos de escola, do baba, do aniversário de fulana, do trabalho...
E se algumas dessas afinidades por vezes fazem com que se reúnam pessoas parecidas, com muitos pontos em comum inclusive os níveis de bom senso,  elas nem sempre são suficientes para que as pessoas ali congregadas sejam minimamente semelhantes.
Daí vemos uma profusão de assuntos sendo discutidos em total dissonância com o tema do grupo, postagem de piadas muitas vezes de cunho racista, homofóbico, machista, além dos boatos, correntes, manifestações políticas desprovidas de profundidade e racionalização. Também não podemos esquecer das mensagens de auto-ajuda, com frases saídas do livro Um pensamento por dia ou de O segredo.
E por fim tem ele, o famigerado  "bom dia". Odiado por 9 entre 10 usuários do Whatsapp, o diabo do bom dia consegue se manter firme e forte mesmo após as mais violentas tentativas de bani-lo do mundo virtual.
As estratégias de silenciar o grupo e não baixar automaticamente as mídias não resolve. Quando acordamos e vamos ler as mensagens, perdemos 10 minutos apenas para ultrapassar o bom dia. Claro que o dia já não vai ser tão bom, afinal, suportamos essa maratona todas as manhãs.
Apesar das tentativas de algum tipo de regulação nos grupos, a falta de noção permanece. O desrespeito ao espaço do outro prevalece, baseado numa suposta liberdade de expressão e direito ao entretenimento. Claro, há também o dever de informação, que faz com que as pessoas compartilhem as piores aberrações sem ao mínimo se dar ao trabalho de fazer uma verificação de 30 segundos. É a famosa "Não sei se é verdade, mas...".
Aí as pessoas vão gerando um tráfego de informações inúteis, ocupando o tempo das pessoas e normalmente fazendo com que o grupo  não atenda à finalidade para a qual foi criado. E nem estou mencionando o desrespeito e disseminação do preconceito ao serem postados conteúdos homofóbicos, racistas e machistas.
Ah! E as mensagens que podem configurar a prática de crime de calúnia, injúria ou difamação? Sim, porque quando você compartilha boatos, a depender de seu conteúdo, isso é crime sim. Então cuidado, viu? Não custa nada das uma "gulgada". É rápido, normalmente você nem precisa clicar no link para obter a informação de que aquilo que ia postar é mentira. 
Temos ainda a afronta, o insulto, o menosprezo pelas crenças, pelas origens, pela religião alheia. Já vi piadas falando de judeus, de macumba, de ebó... Obviamente essas mensagens não são engraçadas. Mas tem quem ria delas. E dentro do tema fé, há mensagens de cunho religioso que devem encher o saco de quem é agnóstico ou ateu. E talvez quem seja de candomblé se sinta incomodado com fotos de Jesus, Maria, José. Quem é evangélico não deve se sentir muito bem com as imagens de santos. Assim, se não é o foco do grupo, se não é um grupo dos frequentadores da missa tal, do terreiro tal, do templo tal, acho que não cabe. Só acho.
Sendo mulher, me sinto pessoalmente atingida por fotos de mulheres em poses sensualizadas, por achar que isso reforça a posição feminina como um objeto sexual. Ou vídeos de flagras de relações sexuais e conteúdos afins. Opa, crime, hein? Da mesma forma, se fosse gay, me sentiria ofendida com piadas homofóbicas. Aliás, não só piadas, mas reprodução de vídeos etc. Crime, lembra? Se sou negra, agridem-me as piadas racistas. Crime mais uma vez. Não cansou ainda não? E você perguntou a todos os participantes do grupo se eles curtem ficar vendo homens e mulheres pelados? Vídeos pornô?
Pessoalmente, sinto raiva ao ver publicações que atentam contra a democracia, a justiça, a liberdade, que reforçam a ideia de """justiça""" com as próprias mãos, de vingança. Tenho pena de quem publica mensagens pedindo para as pessoas terem cuidado com os presos sairão no indulto de Natal, afinal nem sabem a diferença entre indulto e saída temporária, ou que anunciam confisco de poupança, fim do 13° salário, pedem impeachment e nem sabem escrever sem usar o corretor ortográfico, mas não fazem ideia de quem vai para o lugar de Dilma. E os que berram contra o auxílio reclusão??? Aff!!!
Ninguém venha argumentar que as pessoas muitas vezes compartilham sem ler. Aí, além de irresponsável, esse indivíduo é burro. Eu perdoo ignorância, mas burrice não. As pessoas não podem justificar a sua inconsequência pelo fato de não terem lido a informação que divulgaram. 
Esse texto está enorme, do tamanho da minha falta de paciência com alguns grupos de Whatsapp. Tenho saído quando vejo que o desrespeito e o transtorno superam os benefícios da comunicação rápida e do entretenimento. Muitos podem argumentar que eu sou intolerante e que não sei conviver em grupo. Sim, sou 110% intransigente com algumas posturas como racismo, homofobia e machismo acho que isso já ficou claro, né?. E sim, tenho dificuldade de conviver em grupos em que condutas como essas são aceitas e até consideradas engraçadas. Lembrem-se, crianças, nunca é apenas uma piada.
Então, fiquem tranquilos. Nos grupos em que esse conteúdo é permitido e até aplaudido, vocês estão livres da participação da chata aqui. 

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Sobre o Carnaval, a Escola de Bike e o Mini Circuito da Vila Infantil do Itaú

"Hoje não tem dança
Não tem mais menina de trança
Nem cheiro de lança no ar
Hoje não tem frevo
Tem gente que passa com medo
E na praça ninguém pra cantar
Me lembro tanto
E é tão grande a saudade
Que até parece verdade
Que o tempo inda pode voltar"


É, acabou o Carnaval. Pelo menos para nós, que trabalhamos na Vila Infantil do Itaú, terminou às 15:00h. A sensação de dever cumprido, de missão completada, tenho certeza que é compartilhada por todos.
Foram 08 dias de trabalho, muito trabalho, desde o dia 07/02. O desgaste físico, em alguns momentos, foi intenso. O calor foi grande, e a nossa vontade de colocar as crianças para pedalar fez com que nos dedicássemos ao máximo a cada pequeno ou pequena que chegava até nós querendo aprender a andar de bike sem rodinha ou àquele que sequer conseguia pedalar pra frente. Tudo foi recompensado com sorrisos, olhos brilhando, abraços sinceros e beijos estalados.
Cada criança que passou por nós foi um presente em nossas vidas. Muitos pedalaram pela primeira. Impossível não se deixar contagiar por sua alegria. E o olhar orgulhoso dos pais? Vitória compartilhada pela família. Vários saíram da aula quase pedalando. Tanto insistiram depois que acabaram conseguindo, e voltavam cheios de si para nos mostrar.
Teve os pequetiticos que mal alcançavam o pedal.. Quantos não tiveram de ser retirados da bicicleta chorando, porque não queriam sair?
No Mini Circuito, outra festa. Os pimpolhos amaram pedalar na "rua", e nós podemos passar noções de condução defensiva e respeito no trânsito. Esperamos ter feito a diferença na vida desses futuros ciclistas.
Isso sem falar em todas as crianças especiais que nos visitaram durante todo esse período. Difícil até expressar a minha sensação de satisfação e gratidão por ter tido a oportunidade e o privilégio de conviver com esses meninos e meninas iluminados, ainda que por pouco tempo. Eu ganhei sorrisos, risadas, frases empolgadas, ciclistas concentrados. Ganhei também palavras de gratidão de pais que confiaram a nós, ilustres desconhecidos, a diversão de seus filhos. Esperamos ter retribuído à altura. Só podemos agradecer pela presença e pela alegria que nos foi concedida.
O grupo de Bike Anjos que atuou nessa ação dedicou várias horas de seus dias de Carnaval para que o Mini Circuito e a Escola de Bike fossem um sucesso. Foram mais de 2000 crianças atendidas em 08 dias. Não é pouca coisa. O mais importante é que fizemos o nosso trabalho com alegria, responsabilidade e consciência de nosso papel. 
Ao Itaú, responsável pela Vila Infantil como um todo, obrigada pela parceria e pelo voto de confiança no trabalho do Bike Anjo Salvador. Esperamos ter feito um trabalho condizente com alto nível do evento. 
Falando agora em meu nome... Eu, Marcella Marconi, não esperava que fosse ter um Carnaval tão especial. Só tenho a agradecer pela chance de participar de um projeto tão grande e tão bem recebido pela população. Vivi experiências fantásticas, emocionantes. Presenciei crianças evoluindo de um dia para o outro. Testemunhei vitórias, determinação, coragem. Vi brilho nos olhos, abraços acolhedores. Contemplei dedicação, esperança, doação, entrega. 
A todos os Miguel, Vitor, Valentina, João, Guilherme, Luiza, Duda. Lila, Clara, Gabriel, Mariana, Francisca, Osmar, Luanda, Luande, Antônio, Zeus, Kevin, e a todos aquele que não lembro o nome: MUITO OBRIGADA. Até 2016!!!


Escolhi essa foto porque ela sintetiza toda a emoção do que vivemos durante a Carnaval. Poder acompanhar Miguel durante o Mini Circuito foi um prazer. Ele possui algum tipo de atrofia, se não falo nenhuma besteira. Apesar disso, pedala muito bem. Minha companhia foi necessária apenas para evitar um possível choque ou queda. Estar ao lado dele, ver uma criança que vencer as dificuldades, presenciar pais felizes por seu filho participar e se divertir, se isso não é um  presente, eu não sei o que é.



Já Osmar foi uma grata surpresa. No primeiro dia, acompanhei-o durante todo o percurso do Mini Circuito, já que ele é autista e a mãe pediu que tivesse sempre alguém por perto. Hoje a mãe fez a mesma observação. Mas na hora do vamos ver, não é que ele estava soltinho, pedalando tudo, sem auxílio nenhum?? Não resisti e fui falar com a mãe, que ficou super emocionada e disse que não estava se sentindo muito bem, mas que fez um esforço para levá-lo, pois ele ficou muito feliz de ter participado. Peraê, caiu um cisco no meu olho... 

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Por um Carnaval com menos selfies (a explicação)

Eu vou me alongar um pouquinho sobre uma postagem que fiz logo cedo no Facebook, pedindo por um Carnaval com menos selfies e coisa e tal.
Em primeiro lugar, quero dizer que não me excluo dessa cultura exibicionista. Mas tenho tentado deixá-la de lado.
Vamos por partes.
Meu Facebook é dividido entre amigos e conhecidos. Os amigos normalmente eu sigo. É uma forma de me manter próxima, principalmente quando não consigo encontrá-los pessoalmente com a frequência que eu gostaria -embora talvez seja a frequência adequada para o amigo. Enfim.
Só que alguns amigos nada mais fazem que postar selfies, fotos de comida, essas coisas já super batidas, né? Claro que é uma opção. Cada um faz aquilo que mais lhe agrada, realiza.
Eu é que levanto o questionamento. Principalmente a mim mesma, faço questão de deixar claro. Quantos momentos perdemos tentando fazer a foto perfeita de um momento que é, em verdade, incapturável? Deixamos de ver milhares de cenas pelos nossos próprios olhos para vê-las através de nossos smartphones, sendo que provavelmente esse vídeo ou foto nem será acessado novamente. Quantas e quantas vezes vi gente em shows mais preocupada em fazer aquela foto com o artista do que cantar a música favorita a plenos pulmões... E esses dias no Carnaval... Pais preferem que as crianças percam preciosos minutos a deixar pra lá o glorioso registro de seu filho pedalando no mini circuito. Pergunta para a menina ou menino se ele queria estar pedalando ou posando para foto!!!
E a comida, gente? Já deu né. Acho que poucas merecem o registro. Aí o tempo que a pessoa perde até achar o ângulo perfeito o prato esfriou, o sorvete derreteu... O que você ganhou além de o mundo saber que você comeu algo diferente de pão com ovo no café da manhã? O que ganhou não sei, mas provavelmente perdeu de fazer uma refeição plena, ativando todos os sentidos e desfrutando talvez da companhia de alguém agradável.
Aí temos as fotos da malhação, dos suplementos..  O check-in no aeroporto, no shopping...
O que não falta são realizações nossas ao longo do dia e que são indispensáveis de serem postadas #IroniaModeOn É evidente que não sou xiita e que creio que há situações das listadas acima que valem o registro.
O que trago para a reflexão, inclusive minha, é o bom senso. Vale a pena tirar o celular da bolsa e perder de curtir um momento fugaz, mas intenso? Se é algo que interessa a apenas uma pessoa, por que não mandar diretamente para ela? O que ganhamos com tamanha exposição?
E aos amigos que povoam a timeline de selfies e fotos de comida: não ache que eu te amo menos quando eu parar de te seguir. Ou talvez seja muita pretensão minha achar que alguém se importa se eu parar de seguir. E não se sinta acanhado de deixar de me seguir se achar que tantas postagens sobre bike ou feminismo, por exemplo, são desnecessárias. Cada um faz o que bem lhe aprouver.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Eu sou ela ontem. Ela sou eu amanhã. E isso me faz muito feliz.

Hoje é dia do meu maior clichê. O dia em que me permito frases piegas, porque às vezes somente estas representam o que se passa em nosso coração.
É dia do meu maior orgulho, do meu motivo de preocupação, dia do meu tudo, do meu chão. Meu porto seguro, minha salvação, meu colo. 
É o dia daquela que está sempre a postos, sempre alerta, sempre atenta. Ela é o próprio presente.
Mesmo quando está emburrada. Mesmo quando não fala o que sente e temos de adivinhar. Mesmo quando faz birra.
Ela é, mais do que um exemplo, um espelho. Dela eu puxei muito do que sou. Com ela aprendi grandes lições. Por ela tive moldado o meus espírito contestador. 
E como dois bicudos não se beijam, tivemos - e temos - nossas rusgas pelos caminhos da vida. Mas muito cedo entendi que tínhamos de usar as nossas semelhanças a nosso favor.
E hoje, em que é o dia dela, eu digo aqui, com todas as letras, que por mais que eu faça algo por ela, nunca será o suficiente nem para demonstrar tudo que sinto, nem para agradecer pela sua entrega e disponibilidade plena para mim e para aqueles que a rodeiam.
E se ela não conseguiu me ensinar a ser arrumada e organizada - sua única falha nesse processo - me mostrou o quanto é importante fazer o bem, ajudar, colocar-se no lugar do outro. Acho que essa lição aprendi direitinho.
Mãe, te amo tanto que chega aperta o peito. Você é um exemplo de mãe, mulher e cidadã e que merece ser reconhecida por sua integridade, comprometimento, dedicação, competência e amor que você coloca em cada detalhe de tudo que faz.
E se eu posso dizer alguma coisa para te ajudar nesse balanço que você está fazendo de sua vida agora que não paga mais passagem de ônibus e tem vaga prioritária no shopping, você é uma vencedora. Pode ser que você não tenha acumulado grandes fortunas materiais, nem tenha viajado o mundo... Mas é rica porque possui amigos que te amam, um marido que, ao modo Hagar, é apaixonado mesmo depois de tantos anos, filhos que se miram em você, é digna, íntegra, ética.
Festeje a riqueza, sua vida é seu próprio tesouro.   


domingo, 1 de fevereiro de 2015

Menina Bike Girl. Angel no Pedal. É, chega uma hora que temos de arrumar isso tudo.

Eu sabia que 2015 seria um ano movimentado, mas precisava ser tudo tão rápido? Tinha de acontecer tudo ao mesmo tempo? O ritmo frenético faz parte do pacote?
Janeiro nem bem terminou e foram tantos acontecimentos que até me sinto zonza. Quase não sei por onde começar, pois parece que as demandas são infinitas.
Não dá nem para dizer que não imaginada ter chegado onde cheguei. Não existia onde. Não existia pensar sobre nada disso.
E quando dei por mim, estava completamente absorvida e mergulhada nesse projeto Bike Anjo Salvador, querendo fazer mais, querendo fazer melhor. Apesar da animação, o receio de não dar conta, a dúvida sobre estar fazendo a coisa certa, o questionamento sobre as decisões tomadas não deixam de pairar sobre minha cabeça. Porque, né, você já participou da articulação de um grupo desse tipo? Pois é, nem eu! Ou seja, zero know-how!!!!
Batendo cabeça, dando com os burros n'água, recebendo balde de água fria, o que não falta é chavão para descrever esse percurso. Não vamos acertar sempre. Acho que vamos errar muitas vezes, para dizer a verdade. Mas eu garanto dar o meu melhor. O que não falta é vontade de aprender, de conhecer e vivenciar tudo que existe por aí. A bicicleta é um vasto mundo, e eu nem me chamo Raimundo, não sou rima nem solução. Não estou aqui para apontar verdades ou ser dona da razão de nada. Só posso oferecer a minha dedicação e o amor que desenvolvi por esse que é mais do que um projeto, mas um movimento por mudanças de paradigmas.
E é por conta da dimensão que o Bike Anjo Salvador tomou que tive de tomar algumas decisões. Sim, eu preciso trabalhar. Eu também tenho de tomar conta de minha casa. Eu quero mais tempo com meu marido, minha família e amigos tô falando aqueles que não pedalamEu não posso abrir mão de mais horas de sono. Sinto falta de escrever mais. E, é claro, gostaria de poder não fazer nada de vez em quando, só para variar.
Por conta disso tudo é que tive de exercitar a minha incipiente capacidade de dizer não. Tive de escolher. Deixar alguns anéis irem para que ficassem os dedos. Só que esse processo não acontece sem dor. Deixar de fazer algo que se gosta é um processo difícil. Trata-se de exercer o desapego, abandonar a rotina, desacostumar-se ao padrão.
E foi esse o roteiro que segui para deixar a coordenação do grupo Meninas no Pedal. Desde quando compreendi que fazer parte do Bike Anjo Salvador e do Meninas no Pedal era incompatível, soube que o momento de optar chegaria. Só não pensei que fosse ser tão depressa. Me envolvi tão intensamente com as atividades do BAS que os choques eram inevitáveis. São perspectivas diversas, em que pese os objetivos muitas vezes se aproximarem, tanto é assim que os grupos são parceiros.
E então, mesmo que meu coração seja eternamente cor de rosa, chegou o momento de fazer meu trabalho em outro lugar, onde eu talvez me faça mais necessária, pelo menos por enquanto. 
Isso não significa dizer que não sou mais uma Menina no Pedal. Sou e sempre serei. Sou muito grata pelo que o grupo fez por mim. Foi no MNP que pude crescer, exercer um papel que nunca me imaginei fazendo, desenvolver habilidades. E mais, foi o MNP que me proporcionou conhecer muitas pessoas e ter acesso a outras tantas, por conta do papel que assumi nesse grupo.
Agradeço às pioneiras do grupo por terem me recebido e aberto as portas para mim, principalmente a Karina e a Cândida, com quem dividi boa parte dessa jornada.
Agradeço a todas as meninas pela confiança, pela ajuda e pela compreensão com esta Fiona que vos fala.
Agradeço a todos que acreditaram nesse grupo e nos apoiaram desde o início.
Agradeço aos ciclistas que nos receberam em seus grupos, que nos convidaram para seus pedais e que tiveram a paciência e boa vontade de nos ensinar, dar dicas e ajudar. Acho que fomos boas alunas! Podem continuar chamando porque nós vamos!!!
Agora parto para desbravar novos mundos. Eu tenho uma porção de coisas para conquistar, então vou ali pegar minha bike, porque não posso ficar aqui parada. E vou de rosa.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Sobre bolo e guaraná

Eu já disse que faço aniversário no mesmo dia que Simone de Beauvoir? É, não se nasce mulher, torna-se. Deve ser por isso que tive tanta pressa de chegar ao mundo. Porque havia muita coisa a ser feita para que eu me tornasse mulher: viver, sonhar, carregar bandeira, ter tempo para ser feliz. E ter coragem para sê-lo.
E quando se decide ser feliz, tudo acontece para mostrar que se escolheu o caminho certo. Porque o amor envolvido não tem fim. E você deixa de ter qualquer dúvida sobre as sementes que plantou e os sentimentos que buscou espalhar pelo mundo.
Nesses três dias da micareta de aniversário, eu tive as melhores demonstrações de carinho e afeto. Muito mais do que poderia imaginar. Desde pessoas que eu mal conheço, mas que deixaram lindas mensagens, até as pessoas próximas, que dedicaram seu tempo para comprar - e fazer! - presentes que fossem a minha cara e como acertaram, meu Deus!, e me desejar o que há de melhor nesse novo ciclo que se inicia. E mesmo as que lembraram apenas por conta da notificação do Facebook, sem problema! Pararam ali um minutinho para escrever algo bacana para mim. Em tempos de tanta correria, isso para mim já é uma demonstração de afeto sem igual.
A micareta de aniversário começou na própria sexta-feira, em que fui recebida no Rooftop, do meu queridíssimo amigo Vlad, onde foram abertos os jogos os trabalhos comemorativos. Compareceu quem sempre comparece. Quem bate o ponto mesmo. E olhe, é dessas pessoas que quero me cercar, hoje e sempre.
O sábado foi um dia mágico, não dá para encontrar uma palavra para defini-lo. Começou com um Pedal com SUP, que simplesmente foi perfeito. Não, mais do que perfeito. Sabe algo que brilha, que emana boas energias? Que cria em volta de si uma atmosfera de alegria? É isso. Pedal de bem com a vida, diversão dentro da água, café da manhã sucesso, com direito a bolo delicioso mas sem guaraná e a melhor parte, cercada de pessoas maravilhosas, que não deixam ninguém ter dúvidas de que é querida. 
E a tarde do sábado, hein? O que falar? Tricotar com tantas meninas a tarde toda foi uma delícia. Pode fazer aniversário toda semana para repetir? Quero vocês em minha casa sempre, gente!!! Presença que é presente, o que mais posso querer da vida?
E aí, a cereja do bolo, encontro da Família Marconi na matriz, com a presença ilustre dos habitantes da terra da garoa! Ausência apenas de Thiago, Rafael e Bruno Marconi, com os seus respectivos núcleos familiares. E aí cada vez que nos reunimos dessa forma eu me pergunto por que não fazemos isso mais vezes, hein?
Eu não gosto da banalização da palavra gratidão. Nem do uso irrestrito e indiscriminado da palavra amor. Só que não há outras que eu possa usar aqui. Porque é disso propriamente que se trata. Gratidão e amor. Por ter recebido tantas boas energias, de pessoas que estavam longe ou perto, pelo abraços apertados, pelos desejos de saúde, paz, sucesso. Pelos presentes carinhosos, escolhidos com tanto cuidado e atenção. Pela oportunidade de estar perto. Por terem trazido tantos sorrisos para os meus dias. Por me ajudarem a entender que sim, eu me tornei mulher, removi pedras e plantei roseiras, tenho tempo e coragem para ser feliz já diziam Simone, Adélia, Cora e Dona Canô. Por terem feito não só os dias de meu aniversário mais bonitos, mas por darem à minha vida um colorido todo especial. 
Então, hoje e sempre eu sou amor e gratidão da cabeça aos pés.




















 

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Sobre o que veio e o que vem


Daqui a algumas horas, acaba meu inferno astral e o meu ano começa.
Começa também uma nova Marcella, porque a cada ciclo de 365 dias que se inicia, surge também um ser singular, pleno de desejos e potencialidades. Nasce uma pessoa disposta a fazer, refazer e desfazer. Olhar e ver. Ouvir. Sentir. Essa sou eu. Essa renovada eu. 


Que fica ainda mais velha, mais rabugenta e mais chata. Sim, acreditem, isso é possível. E sim, não me importo. Mentira, mas me importo cada vez menos. Quero me importar menos ainda. Porque essa nova eu é claustrofóbica e não se dá muito bem com caixas, amarras e espaços apertados. Então não ligo não quero ligar se as pessoas se importam com as minhas reclamações. Ou se somente me enxergam através disso. Eu tenho de me conscientizar que a mente limitada é a de quem escolheu me ver por suas lentes tacanhas. Se eu não estou ofendendo nem magoando você, então você não tem nada a ver com isso. Que tal perguntar como eu estou ao invés de me condenar ou tentar me definir? Por um 2015 com mais rotas e menos rótulos.
E só para situar, minhas reclamações não surgem do nada. Eu não sou a chata porque simplesmente nasci para tornar o mundo mais sisudo. De alguma forma eu assumi um papel que precisava ser tomado por alguém. E que vários alguéns tomaram para si. Alguns de forma mais suave, outros ainda mais brutos do que eu. Cansa, dá trabalho e desgasta. Às vezes eu exagero? Sim? Passo do ponto? Também. Os transtornos são temporários, mas os benefícios serão permanentes. Brincadeira. Eu tenho me esforçado para ver o mundo com lentes mais coloridas e tolerantes, até mais benevolentes. Paciente. Buda. Entoa um mantra. Respira. Juro. Nem sempre dá, e começo a rosnar no meio do Ommm. Isso decorre da minha personalidade e das escolhas que fiz para mim e de um sangue com baixo ponto de ebulição também. Do que acredito. Dos meus sonhos. Dos meus ideais. Das batalhas que escolhi lutar. E são muitas, mais até do que sou capaz de dar conta. Mas ainda assim eu tento. E falo isso tanto do aspecto micro quanto do macro. Falo do meu quarto e falo do mundo. Eu tenho tentado chamar as pessoas de idiota com um sorriso no rosto. Desconfio que a maioria não percebe o que estou fazendo, porque burrice é uma zorra, então para mim não funciona. Estou partindo para o xingamento mental.

Sei que o cenário parece meio cinzento, mas não pense você que a coisa só piora com a idade. Somos feito vinho,esqueceu? Ficamos mais do que perfeitos com o tempo eu pelo menos estou ficando mais saborosa, complexa, intensa.... Às vezes eu me questiono se de fato me tornei uma pessoa melhor com o passar dos anos. Eu acreditava que sim, mas de quando em vez me ponho em dúvida. O que é ser melhor? É ser socialmente mais aceita? É me enquadrar em um padrão? Falar menos palavrão? Seguir conceitos e preconceitos? Aceitar que determinadas coisas são assim porque sempre foram assim? Não, para mim não dá. Escolhi o caminho mais difícil e escolheria cem vezes. Aliás continuo escolhendo. Então, no fim das contas, eu me tornei ou não uma pessoa melhor? Sim. Porque estou mais firme de minhas convicções e princípios. Porque não aceito preconceitos e repudio quando percebo em mim mesma qualquer atitude nesse sentido. Porque me tornei uma pessoa menos egoísta o que não quer dizer que eu não seja egoísta. Porque sou disponível. Porque tenho atitudes em busca de uma sociedade mais justa e mais humana. Porque procuro exercer o desapego, ainda que seja taxada de materialista e pouco espiritualizada. [Não me rotule, lembra? Das minhas crenças cuido eu. Do que eu acredito, não acredito, passei a acreditar e deixei de acreditar novamente cuido eu. Se faço oferenda, se rezo uma missa, se vejo gente morta ou se abro um livro de física quântica, isso só me diz respeito. Não me julgue, não me enquadre, eu sou muito mais fluida que seus conceitos estanques.]
Relendo esse texto, ele me pareceu muito mais pesado do que eu gostaria, mas ele tem a carga absolutamente necessária. Para uma cética, eu tenho acreditado muito em determinadas coisas astrológicas. Ou apenas me deixei impressionar. Vai saber. Mas não é por acaso que hoje chegou aos meus olhos esse texto, sobre a missão de cada signo.

"Capricórnio, venha cá...
'A ti, Capricórnio, quero o suor de tua fronte, para que possa ensinar aos homens o trabalho. Não é fácil a tua tarefa, pois sentirás todo o labor dos homens sobre teus ombros; mas pelo jugo de tua carga, te concedo o Dom da Responsabilidade.'
E Capricórnio voltou ao seu lugar.
Principal característica: a persistência
Qualidade: disciplina
Defeito: rigidez"

Assim como chegou até mim um outro texto, falando sobre a previsão dos signos para 2015, em um  momento que foi um pequeno aperitivo do que seria será este ano.

"O caos se manifesta para dar nascimento a uma nova ordem que hoje brota especialmente nos corações capricornianos. Crise é sinônimo de oportunidade. O ano de Marte não perdoa. O que é preciso será preciso e não tem jeito. Você não será mais a mesma."

Tá, é para lutar? Vamos em frente. Mas eu vou com um sorriso no rosto e com o coração leve. Junto de quem vale a pena e de quem queira estar comigo. E que seja divertido esse caminhar, mesmo permeado de percalços. Até porque, pelo que me conste, ninguém nos proibiu de voar. Feliz nascimento para mim.